A produção de lixo está cada vez mais acelerada em virtude do consumismo, das vantagens desenvolvidas durante a pandemia pelas entregas e, consequentemente, cada vez mais difícil de lidar com a quantidade de resíduos gerada nos centros urbanos. Esta situação provoca graves problemas de saúde e ambientais à sociedade ao longo prazo.
Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) são os resíduos provenientes do lixo domiciliar, lixo comercial e lixo público. Assim, os RSU são formados de variados materiais com diferentes composições, taxas de degradação, formas, tamanhos e conteúdo energético, criando dificuldades para a sua logística (coleta, acondicionamento e transporte), tratamento e disposição corretos.
Por outro lado, observa-se uma sociedade que está cada vez mais dependente de energia elétrica, com um aumento frequente de demanda por mais energia. Então, uma solução para estes problemas é o reaproveitamento dos materiais (reciclagem) e a reutilização de resíduos orgânicos (dejetos) para geração de energia.
A utilização do lixo para geração de energia é uma tecnologia que vem ganhando força no Brasil e no mundo. A solução apresenta uma série de vantagens, passando pela diversificação da matriz energética do país, cada vez mais necessária e pela diminuição dos impactos causados pela decomposição do lixo, como a emissão de gases nos aterros sanitários.
O Brasil tem uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) desde 2010 - a Lei Federal Nº 12.305/2010. E mesmo com esse marco legal em pleno curso, a situação nacional dos lixões, a coleta regular, a coleta seletiva, os devidos destinos, a regularização de aterros sanitários, a remuneração que tira da vulnerabilidade, etc., tudo isso e mais, está longe de ser positiva.
Conforme dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), cerca de 40% das 76,1 milhões de toneladas de resíduos sólidos coletadas anualmente no País estão depositadas em lixões, ao invés de serem alocadas em aterros sanitários devidamente tegularizados e documentados.
Esse comportamento do sistema de resíduos sólidos brasileiro gera tanto um problema ambiental, como o metano que é produzido pela degradação do lixo, sendo um gás que superaquece a atmosfera, quanto de saúde pública, pois o chorume que escorre das montanhas de resíduos a céu aberto contamina os rios e o solo.
Apesar de avanços nas áreas de disposição final de lixo, no incremento da economia circular e da reciclagem industrial há muito a ser feito. Produzir energia a partir do lixo, por exemplo, é uma estratégia para reduzir a poluição ambiental e ainda economizar recursos.
Figura 1. Sistema Completo de Incineração. Fonte: Energês.
Referente ao Aquecimento Global, na prática, as usinas que operam a partir dessa lógica incineram a fração não reciclável do lixo e, a partir disso, geram energia elétrica tradicional. De acordo com a Aebi Schmidt Group da Suiça, a incineração de resíduos não recicláveis é uma tecnologia totalmente segura do ponto de vista ambiental, que gera energia limpa e ainda diminui a necessidade do aterro sanitário para sempre, além de reduzir a emissões de gases como o metano e diminuir o volume de lixo em 95%, sendo que os 5% restantes ficam em forma de cinzas, podendo ser utilizados, por exemplo, na construção civil, já que é um material totalmente inerte.
Conforme afirma Carlos Silva Filho - diretor-presidente da Abrelpe, apesar dessa técnica ser usada há décadas em países europeus, a exemplo de Paris/França, Zurique/Suíça e Suzhou/China, têm suas instalações que queimam lixo na frente de todos e devidamente amparadas por legislações ambientais, entretanto esse tipo de tecnologia não conseguiu, ainda, eliminar por completo a necessidade de se construir aterros sanitários e apesar do preço alto do primeiro leilão realizado no ano passado pelo governo federal brasileiro para a venda de energia, deve-se investir mais nessa nova tecnologia, até para que possa baratear no futuro, assim como ocorreu com os equipamentos usados na geração das energias solar e eólica.
Pelas estimativas da Associação Brasileira de Reuperação Energética (Abren), com 56% do lixo urbano produzido nas 28 regiões metropolitanas do Brasil com mais de 1 milhão de habitantes, seria possível abastecer 27 milhões de residências. Entretanto, em regiões com menos de 600 mil habitantes não existe viabilidade econômica, pos seria preciso, de repente, fazer consórcios entre os municípios, já que o custo dessas usinas variam entre R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão.
O leilão realizado em 2021, ainda deverá colocar no sistema ao menos 12 mega Watts de nenergia, a um custo de R$ 549,00 o MWh, os quais deverão ser produzidos a partir de 2025, em uma usina térmica em Barueri/São Paulo. A usina deverá ser construída por R$ 520 milhões e se tudo der certo quando começar a operar, será a primeira instalação do gênero na América Latina.
A expectativa é que estes 12MW não são significativos para suprir uma demanda cada vez mais crescente por energia elétrica, mas não deixa de ser importante para mostrar que essa opção de geração de energia pode ser uma das alternativas viáveis que o Brasil tem e pode oferecer, basta que hajam mais leilões do setor.
Por fim, dentre as vantagens desse sistema, estão:
- Minimização do problema dos lixões e aterros;
- Instalação de usinas próximas aos centros urbanos emergentes;
- Alternativa recomendada pela ONU para a destinação dos resíduos urbanos;
- Redução da emissão de gases dos aterros sanitários com o aproveitamento do biogás;
- Reciclagem de nutrientes;
- Menos poluentes que outras fontes de energia (ex. fósseis);
- Independência energética e geração de receita local.
Os principais obstáculos que impedem a geração de energia por meio do lixo são: a falta de recursos para investimento e de incentivos que permitam reduzir o custo da energia gerada a partir dos resíduos. Paralelamente, é preciso que o país tenha um abrangente sistema de gestão dos resíduos sólidos urbanos, prevendo desde campanhas educativas continuadas de redução do consumo, conscientização sobre a separação na origem, até sistemas de reciclagem e sua reincorporação no mercado, passando por sistema de recuperação energética adequada aos resíduos gerados, além de correta destinação final para os rejeitos. Os desafios são gigantes, mas plenamente possíveis, se o sistema funcionar.
Referencial:
Portal do Saneamento Básico. Disponível em: https://saneamentobasico.com.br/residuos-solidos/energia-lixo-arma-contra-aquecimento-global/?utm_source=Newsletter&utm_medium=RD_Station+Julho11&utm_campaign=RD_Station+Julho11&utm_id=Portal+Saneamento+B%C3%A1sico&utm_term=Saneamento+B%C3%A1sico&utm_content=Saneamento+B%C3%A1sico. Acesso em 15/08/2022.
Energês. Disponível em: https://energes.com.br/como-funciona-o-processo-de-producao-de-energia-atraves-do-lixo/ Acesso em 15/08/2022.
Estadão. Disponível em: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,energia-produzida-a-partir-do-lixo-e-arma-contra-aquecimento-global,70004120769 Acesso em 15/08/2022.
Redação AECweb. Disponível em: https://www.aecweb.com.br/revista/materias/aproveitamento-do-lixo-na-geracao-de-energia-ajuda-a-reduzir-impactos-ambientais/12418 Acesso em 15/08/2022.
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