A Polícia Civil do Rio Grande do Sul prendeu quatro pessoas suspeitas de integrar uma organização criminosa que utilizava inteligência artificial para aplicar golpes virtuais em diferentes estados do país. O grupo é investigado por desenvolver vídeos falsos, conhecidos como “deepfake”, nos quais reproduziam rostos e vozes de celebridades brasileiras, como Gisele Bündchen, Angélica Huck, Juliette, Maísa e Sabrina Sato, para induzir vítimas a compras fraudulentas pela internet.

De acordo com a investigação, os golpistas anunciavam produtos que não eram entregues, cobrando apenas o valor de frete, geralmente entre R$ 20 e R$ 100. Os investigadores apontam que a estratégia dos criminosos estava justamente na cobrança de pequenas quantias, o que fazia com que muitas vítimas não procurassem a polícia para denunciar. Uma das pessoas lesadas relatou ter pago R$ 40 por um kit de cosméticos que nunca chegou. A Polícia Civil destacou que a soma de milhares de golpes de valores baixos resultou em movimentações financeiras que ultrapassaram R$ 20 milhões em apenas seis meses.
Ao longo da apuração, foram cumpridas 26 ordens judiciais, incluindo sete mandados de prisão preventiva e nove de busca e apreensão, além do bloqueio de contas bancárias, investimentos, carteiras de criptoativos e veículos de luxo em cinco estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Bahia e Pernambuco. No total, os valores bloqueados superam R$ 200 milhões, podendo chegar a R$ 210 milhões. Entre os bens apreendidos estão carros de alto padrão, como Porsche Cayenne S, Range Rover Velar e BMW 430i, além de motocicletas de grande porte.
Os delegados responsáveis pela operação destacaram que os investigados utilizavam tecnologia avançada para ocultar rastros digitais, como VPNs e perfis falsos com dados inventados. Entretanto, os próprios suspeitos acabaram sendo identificados ao exibir nas redes sociais uma rotina de ostentação, com viagens internacionais, mansões e apartamentos de alto padrão. Em alguns perfis, o grupo chegou a oferecer serviços de mentoria para ensinar seguidores a aplicar golpes semelhantes, criando o que os investigadores classificaram como uma “rede de multiplicação do crime”.
Segundo a delegada Isadora Galian, o grupo não apenas aplicava os golpes como também ironizava vítimas e autoridades em suas postagens. “Eles debochavam da Polícia Civil, debochavam da Justiça e exibiam veículos de luxo adquiridos com o dinheiro das fraudes”, afirmou. O delegado Filipe Borges Bringhenti acrescentou que o modelo de atuação dos suspeitos se assemelhava ao funcionamento de uma empresa, na qual a metodologia criminosa era comercializada.
A modelo Gisele Bündchen, uma das celebridades cujas imagens foram utilizadas sem autorização, agradeceu publicamente o trabalho da polícia no combate às fraudes. A investigação revelou ainda que, além do estelionato, os suspeitos poderão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro e exploração de jogos de azar.
A Polícia Civil reforçou orientações à população para evitar cair em golpes digitais. Entre as recomendações estão: desconfiar de ofertas muito abaixo do valor de mercado divulgadas em nome de famosos; verificar a autenticidade de perfis e anúncios; pesquisar a reputação de empresas em sites especializados; não fornecer dados pessoais sem checar a veracidade da oferta; e denunciar qualquer suspeita, mesmo quando o valor seja pequeno.

Segundo os investigadores, a baixa quantidade de registros de ocorrência era um dos principais fatores que permitia a continuidade dos crimes. Muitas pessoas preferiam não registrar as perdas por se tratar de quantias reduzidas, o que, de acordo com a polícia, proporcionava aos criminosos uma “imunidade estatística”, permitindo que operassem em grande escala sem receio de punição imediata.
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