A Amazônia está em chamas, com uma intensidade de fogos de incêndio em dimensões assustadoras, impulsionadas por um discurso ecocida e genocida dos anti-ministros da Agricultura Tereza Cristina e de Meio Ambiente Ricardo Salles, capatazes do agronegócio, regados por coquetéis inseticidas.
As consequências dessa política anti-ambiental espalharam as chamas e o desmatamento para outros biomas brasileiros. No centro-oeste do Brasil, mais especificamente no estado do Matogrosso, em pleno Pantanal, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE registrou em 08/09/2020 mais de 25 mil focos de queimadas ilegais, oriundas principalmente de propriedades particulares, sendo o maior número em 10 anos. Os incêndios geram um caos em meio às matas, com calor intenso e fumaça sufocante, de forma que o fogo destrói comunidades e a biodiversidade que convivem nesse habitat.
Os animais, mesmo na eminência do perigo, não correm do fogo, ficam em choque, parados, aguardando a morte cruel, gerando uma tragédia socioambiental sem precedentes, que coloca em risco toda a dinâmica pantaneira; no Cerrado, onde a expansão agrícola tem convertido áreas com enorme biodiversidade em extensas monoculturas para exportação, basicamente soja, e ameaça a “caixa d`água” do Brasil, assim como, mais especificamente o estado do Tocantins também sofre com a seca nessa época do ano, que se agrava principalmente com a captação irregular de água por indústrias e fazendeiros ao longo dos mananciais de água natural; na Mata Atlântica sendo cerceada pela falta de comprometimento dos municípios na fiscalização do único bioma com legislação própria; na Caatinga e no Pampa, que sofrem diariamente ameaças históricas e são potencializadas pelos discursos, intenções e ações para “passar a boiada” de qualquer jeito, com ou sem pandemia, com ou sem os holofotes da mídia, de forma que todos os biomas estão sob risco, já que a lógica degradadora é a mesma pelo slogan que diz: “Agro é tech, é pop, é tudo”.
A chuva é um dos reguladores de temperatura para as regiões norte, centro-oeste e sudeste, mas com o predomínio de queimadas criminosas, o calor aumenta, a umidade relativa do ar diminui drasticamente e assim também, através da zona de convergência intertropical – que nada mais é do que o corredor de umidade na linha do Equador chamado de Rios Voadores, faz com que os corredores de chuva fiquem mais predominantes no litoral do norte brasileiro, no período do inverno. Quando a primavera chega, esse corredor de umidade desloca-se mais para o continente, de forma que os ventos alíseos vão em direção à Cordilheira dos Andes no Chile e as nuvens de chuva voltam a espalharem-se, trazendo novamente a umidade para o centro-oeste e sudeste do país.
A quantidade de chuvas que caem sobre o Sul, provenientes do fenômeno chamado Rios Voadores, que são “cursos de água atmosféricos” que viajam centenas e milhares de quilômetros e que regam o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil, além dos países vizinhos.
A Amazônia funciona como uma bomba d`água, pois toda a umidade evaporada do Oceano Atlântico segue floresta adentro pelos ventos alíseos, é descarregada em forma chuva, que cai na floresta, um dos locais mais quentes e úmidos do planeta. Com esse calor tropical, acontece a evapotranspiração nas árvores, retornando toda essa água para a atmosfera em forma de vapor d’água. Os ventos direcionam essas massas de ar carregadas de umidade para o oeste, mas no caminho encontram a Cordilheira dos Andes, com mais de 4.000 metros de altitude.
Uma parcela das massas de umidade precipita nas encostas da Cordilheira, o que forma as nascentes dos rios amazônicos que abastecem vários países e se transformam na maior bacia hidrográfica do mundo, a do Rio Amazonas, com vazão de cerca de 200.000 m³/s. A evapotranspiração não fica para trás e segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, a quantidade de vapor d’água evaporada pelas árvores da floresta pode ser a mesma ou até maior do que a vazão do Amazonas. Daí a importância de preservação dos ecossistemas, que interagem entre si.
Adaptado pela Autora – Projeto Rios Voadores
A Amazônia é o ecossistema essencial para o regime de chuvas e clima da região Sul, pois a água que se desloca por quilômetros ocorre devido às árvores e à floresta em pé. As consequências já sentidas, amplamente estudadas e descritas por vários cientistas e centros de pesquisa (CPTEC, INPA, INPE, LBA E IMAZON, SOS MATA ATLÂNTICA, GREEN PEACE, WWF, entre Universidades e outros), e nos cenários colocados nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tendem a se intensificar e aprofundar com o modelo predatório do agronegócio brasileiro.
Faz-se necessário derrotar um modelo capitalista agroexportador inconsequente, que alimenta os países do “mundo globalizado”, caso contrário as chamas continuarão cada vez mais frequentes e intensas, assim como a falta de água e os períodos de estiagem no Sul do Brasil. Essas chamas não queimam somente a floresta amazônica, o Pantanal e o Cerrado, mas eliminam a umidade, as chuvas e a água no sudeste e sul do país.
Ambientalistas e especialistas defendem a restauração da Floresta Amazônica para a estabilização do clima global, do regime de chuvas em toda a América do Sul e também para evitar que desequilíbrios ecológicos em outros biomas produzam algo até mais graves do que a da covid-19. Não se fala somente em zerar o desmatamento, é preciso restaurar. Isso porque essas perturbações causadas pelo desmatamento, queimadas, exploração ilegal de madeiras, garimpos, uso irregular de águas superficiais e o avanço do gado já estão colocando possíveis patógenos muito perto de se tornarem epidemias e pandemias.
Como ponto de partida para reverter a situação, há um consenso de defesa da ideia de que os políticos passem a estudar para entender a importância da ciência para reduzir riscos futuros, em vez de se associar à uma indústria da legalização de crimes ambientais, na aprovação de leis para legalizar o desmatamento ilegal, o garimpo, a grilagem de terra, de roubo de madeira que financiam essa classe política impatriótica e que devem ter um fim o mais rápido possível. Mas principalmente, os políticos devem ouvir a população, conselhos de meio ambiente, ONG’s, grupos de trabalho e educação ambiental, ou seja, aqueles que estão com os pés, mãos e cérebro no ambiente ameaçado.
Há mais de 25 anos, 90% da população brasileira já era contra o desmatamento e o desmonte do patrimônio ambiental. Já em de agosto/2019, a mesma pesquisa foi realizada e mostrou que a desaprovação com a atual política ambiental e de agronegócios no país chegou a 96%, assim como 90% dos amazonenses também são contra. É de imediato a necessidade de se implantar uma democracia de fato no Brasil e eliminar essa falsa representatividade desses políticos, que não representam a vontade de cientistas em meio ambiente e que conduzem um modelo de acelera a destruição do patrimônio do país.
Autor de diversos estudos sobre a Amazônia, referência internacional em estudos sobre mudanças climáticas e aquecimento global, o cientista Carlos Nobre afirma que a preservação do bioma amazônico, bem como de todas as florestas tropicais do mundo, é plenamente possível. Citando um estudo recente seu, afirma que o custo de preservar um ambiente natural é equivalente a menos de 1% da perda econômica trazida pela recessão global, ou seja, para preservar eficientemente, essa é uma rota de saída como estratégia para a pós-pandemia, para proteger os biomas brasileiros e a Amazônia, onde existe mais biodiversidade e mais microrganismos.
É enfático quando afirma que não se deve contar com a sorte, já que há na Amazônia uma série de elementos necessários para gerar uma pandemia e que com o desmatamento desenfreado e o fogo predatório que perturbam os animais, assim como os milhares de garimpeiros ilegais e os madeireiros, são altíssimas as chances de chegar um momento em que patógenos passem para o corpo humano e assim, as consequências são imprevisíveis, a exemplo da SARS-COV-19.
Para o biólogo Paulo Moutinho, que no INPA estuda as causas do desmatamento na Amazônia e suas consequências para a biodiversidade, afirma que o Brasil tem tudo para reverter o atual panorama socioambiental, já que há cientistas respeitados no mundo todo, organizações sérias, todo um acúmulo de décadas de estudos e metodologias voltadas à preservação ambiental. O que falta é a vontade política, mas há esperança, visto que os povos indígenas, apesar de toda perseguição, criminalização e vulnerabilidade a doenças, vigiam milhares hectares. Citando o Cacique Raoni, negou que haja no Brasil muita terra para pouco índio. O que há é muito pouco índio para lutar e tomar conta de muita terra.
Preservar é exatamente isso que os indígenas fazem enquanto exercem seu direito universal e cultural à terra, que é sagrada para a cultura deles. Menos de 1% é o percentual de desmatamento de terras indígenas na Amazônia, independente da tribo. Quando analisado o mapa de desmatamento, vê-se que a degradação é menor nas áreas indígenas. Então as terras indígenas são importantes apenas para eles, mas também para aqueles que estão nas cidades. A água que vem do regime de chuvas graças à sua preservação. Assim, se faz necessário preservar o direito desses povos ancestrais não só porque são os verdadeiros donos da terra, mas porque são os cidadãos que mais fazem preservação para restante do povo brasileiro.
Por fim, o que importa é que se repense no voto, na responsabilidade de cada cidadão e na melhoria e aplicação das leis vigentes para que a preservação dos biomas brasileiros seja colocada em prática e vivenciada a cada dia, por todo o brasileiro.
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