Não há mais dúvidas de que a ciência é clara quando afirma que as mudanças climáticas estão em plena atividade e seus resultados perenes pela atividade humana. O planeta já está 1,1 oC mais quente do que os níveis pré-industriais e a caminho do que seria catastrófico, como subir até 2,5 oC ou mais neste século. As comunidades mais vulneráveis e pobres já sofrem e com intensidade incalculável.
As mudanças climáticas trarão as mais diversas anomalias nos microclimas: secas, enchentes, temperaturas extremas, tsunamis, furacões, perda de fauna e flora, entre outros, os quais podem se tornar mais intensos e mais frequentes com o tempo, de forma a impactar bilhões de pessoas ao mesmo tempo. O aumento dos níveis do mar, a extinção eminente de espécies polinizadoras, a escassez de água e alimentos e regiões tornando-se inóspitas podem causar migrações em massa dentro de um planeta que limita fronteiras entre os países neste instante. Essas são as notícias que alarmaram os participantes da COP 26, em Glasgow – Escócia em 2021.
A boa notícia é que ainda há um curtíssimo espaço de tempo para mitigar esse caminho que se revela catastrófico e entregar um planeta seguro para as próximas gerações. Se faz eminente e urgente atingir esses objetivos nas próximas três décadas. Os dois maiores desafios serão acabar de vez com a queima de combustíveis fósseis e frear o desmatamento, já que o tempo é um desafio enorme, mas ainda é possível alcançá-los.
Se, para alguns países, combater as mudanças climáticas é um obstáculo, para outros, como o Brasil, é uma oportunidade de negócios fáceis e rentáveis, pois pode promover o próprio desenvolvimento, baseado em uma economia verde e sustentável. O país abriga duas das florestas tropicais mais importantes e diversificadas do mundo: a Amazônia e a Mata Atlântica. Infelizmente, as informações oficiais contam que quase 20% da Amazônia (73 milhões de hectares) foi derrubada nas últimas décadas, enquanto 88% da Mata Atlântica (115 milhões de hectares) desapareceu desde a chegada dos europeus em 1500.
Frear o desmatamento da Amazônia antes que o bioma alcance o seu ponto crítico e se torne um cerrado é o primeiro passo. O limite mínimo de 20% de desmatamento não é aceitável e estudos indicam que poderá transformar a maior floresta tropical do mundo em uma fonte de emissões de carbono, em vez de um sumidouro, o que afetará o clima, a maior reserva de água doce e uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo, além de afetar um os grupos indígenas – guardiões naturais.
Apesar do aumento do desmatamento nos últimos anos, o Brasil já o controlou com êxito no passado. Devido a políticas públicas coordenadas para reduzir o desmatamento ilegal, criar áreas protegidas e restringir a expansão da soja e da pecuária, entre 2004 e 2012, o desmatamento na Amazônia diminuiu 80%, assim como a agricultura em larga escala cresceu e a agricultura familiar foi fortalecida. Esses são exemplos de situações em que todos os terráqueos ganhavam, mas foi abandonada pelo atual governo federal.
Uma das maiores contribuições que o Brasil pode oferecer ao mundo é voltar ao desmatamento zero da Amazônia, o que também garantiria resiliência para que o país continue sendo um produtor global de alimentos. No entanto, a atual emergência climática exige mais esforços individuais e coletivos como restaurar a Mata Atlântica, de forma que ela sequestraria grandes quantidades de carbono da atmosfera, como uma segunda maior contribuição. Isso protegeria a biodiversidade, conservaria água, restauraria os rios voadores e mitigaria as mudanças climáticas, a um baixo custo, comparado com outras regiões do planeta.
Recuperar e plantar mais de 5 milhões de hectares de árvores nativas para proteger as nascentes e os riachos da Mata Atlântica não compete com a produção de alimentos. Ao contrário, contribuiria fortemente com o abastecimento de água e a geração de hidreletricidade, amenizando as potenciais crises hídricas e os riscos de um apagão elétrico no bioma que abriga 70% da população brasileira e gera 80% do PIB nacional.
Reflorestar mais de 10 milhões de hectares de árvores para substituir pastos degradados fomentaria uma economia florestal dinâmica, com madeira e serviços ecossistêmicos, além de gerar muitos novos empregos e negócios verdes. Políticas públicas, uma cadeia de valor sustentável de commodities como açúcar, suco de laranja, polpa de celulose, cacau e café, e o mercado de carbono, poderiam atrair investimentos em alta velocidade e na escala exigidas pela emergência climática global. O sucesso de um projeto de (re)florestamento dessa magnitude no país poderia se tornar uma referência durante a década da restauração dos ecossistemas declarada pela ONU e amplamente discutida na COP 26.
Há lugares do mundo que estão posicionados de forma única para combater as mudanças climáticas, proteger a natureza e fomentar o crescimento econômico — tudo ao mesmo tempo. Agricultura sustentável, serviços ecossistêmicos, consórcios de atividades agrícolas, pecuárias e reflorestais funcionariam muito bem no país. São inegáveis as oportunidades e o Brasil não deve, nem pode perder essa oportunidade!
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