Nasceu no Rio Grande do Sul já é um gaúcho? Geograficamente sim, mas e o sentimento de realmente “ser gaúcho”? Esse jargão que consideramos um título, já nos remete ao questionamento. Será que gaúcho é o indivíduo que anda pilchado no dia a dia? Aquele que na semana farroupilha se pilcha e vai para os eventos, desfilar de gaúcho (alguns de nós já disse ou pensou isso) mas no resto do ano anda “de magrinho” é gaúcho também? E aqueles “loco véio” lá do interior que usam preferencialmente bombacha e trabalham a semana toda no lombo do cavalo, curando bicheira, castrando terneiro, buscando vaca no mato, levando o Rio Grande no peito, qual classificação pra eles? São todos gaúchos?
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Segundo o pai do tradicionalismo, Paixão Cortes, são e somos todos gaúchos. Paixão nos legou a frase: “Gaúcho é um estado de espírito, não é um nascer, é um quere ser !”. Aí já se lavou na explicação, mas mesmo assim ele difundiu outros vários ensinamentos. Como sou de beber na fonte, tenho lido e relido muitos de seus livros pra ver se espanto a ignorância e adquiro algum conhecimento, afinal nada melhor que aprender com quem idealizou o que chamamos de tradicionalismo.
O que o mestre Paixão e os outros sete jovens do colégio Júlio de Castilhos queriam era prestigiar nosso setor primário, os formadores da sociedade e da cultura do estado. Gaúcho é um apelido de um povo que nasceu em berço esplêndido e adquiriu afeições pelo campo e suas benesses. Existem historiadores com muitas teorias sobre a origem filológica da palavra, mas o que vale mesmo é o sentimento.
Veja a inteligência e o carinho que o mestre coloca ao declarar que “O tradicionalismo é um estado de alma e de espírito. É uma forma de rever as coisas do passado na preocupação de retirar elementos fundamentais que possam ser utilizados para consolidar o indivíduo na sociedade atual”. Não devemos julgar, nem somos capazes de tal ato. Devemos é amar o santo chão onde nascemos, ou naquilo que acreditamos. Afinal conheço vários catarinenses que são muito gaúchos e baitas tradicionalistas, ou seja, não precisa só nascer no Rio Grande. Pelo contrário, nem precisa nascer aqui, basta ter alma gaúcha e respeitar o que isso representa.
O homem rural tem seu valor, assim como os da zona urbana. Os que vão ao CTG ou que tomam chimarrão (ou chimas) na praça, todos tem sua participação no cenário tradicionalista. Seja divulgando nossa infusão sagrada ou nossas músicas, escutando ou lendo uma poesia, falando das lendas, comendo um belo churrasco ou um carreteiro de charque, coisas corriqueiras e cotidianas. Mas que por tantas vezes, nem nos damos conta que faz parte de todo um contexto cultural, uma carga de usos, costumes e cultura de nosso povo e que está inserida no nosso dia a dia, ações que são simples e pitorescas mas legado de nossas raízes.
Olhando para o movimento enquanto entidade que ordena e regulariza o contexto dessa carga tradicional, aquele gaúcho que se pilcha só na semana farroupilha por vezes é até motivo de deboche. Porque outros tantos que vivem socado em CTG ou no lombo do cavalo laçando, não são mais que o pessoal da semana farroupilha, aliás, são meio boca aberta se pensam e agem assim. O pessoal que vai na semana farroupilha, pela semana farroupilha, pode ser pealado pra ir pro teu CTG e fazer parceria nos eventos, ajudando a crescer o movimento. Pode ser que ele goste pra caramba de laçar, mas não sabe ainda.
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Sim, nem sabe porque nunca oportunizaram ele de conhecer a lida. Aquele esqueitista que tá de mate na mão, será que ele não curte a música regional, será que ele não vai no teu CTG? Tu já convidou? Perde o preconceito e te veste de humildade, o mundo mudou e a gente precisa cativar e não segregar, todos podem vir a gostar ou não, mas pelo menos tem que dar a eles o direito de tentar. Tenho amigos que gostam do rock, que dançam pagode, que desfilam em escola de samba, que surfam, outros que não tomam mate e vão no CTG, laçam, dançam ou declamam. Um movimento só é grande se as pessoas carregarem em si essa grandiosidade e o que os senhores do tradicionalismo sempre ensinaram era humildade e fraternidade, era união pra crescer forte.
Nesse final de semana o cantor Gustavo Lima, em seu show no Planeta Atlântida subiu ao palco pilchado, sem convenções de certo ou errado, por favor senhores julgadores, larguem a caneta e vistam a humildade. O cara cantou, encantou e se pilchou, de quebra ainda beijou o pavilhão tricolor do gaúcho com carinho e respeito, ele foi obrigado a fazer isso? Tinha troféu pra melhor pilcha no palco do evento? Quem cantasse pilchado ganhava algum concurso? Não, e aí tem o valor, fez por respeito ao local onde estava, ao povo, fez de coração.
Enquanto os regionalistas se pegam nos corredores para ser mais que os outros, os humildes em gestos simples e verdadeiros ganham o público e a notoriedade. Por essas e por outras que vejo nas crianças o subsídio para melhorar o futuro do tradicionalismo, da sociedade e do mundo, basta que ensinemos à elas humildade, compreensão, gratidão e fraternidade. Opa peraí, mas quem tem que ensinar tem referência? É, há que se repensar...
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