O aumento do consumo de plástico é um problema que afeta o todo o planeta e traz novos desafios para uma cadeia de reciclagem, ainda muito vulnerável. No Brasil, a questão ganha uma importante dimensão social: salvas raras exceções de centrais de reciclagem mecanizadas de São Paulo, quase todo lixo reciclado passa pelas mãos de catadores independentes ou de Cooperativas de Catadores cheias de dificuldades estruturais.
Além do uso na saúde e em equipamentos de proteção, o excesso de plásticos de diversos tipos aumentou intensivamente com a profusão de embalagens em serviços de entrega, principalmente de alimentos. Na outra ponta da cadeia, os trabalhadores da reciclagem diminuíram ou pararam suas atividades para evitar contato com os resíduos contaminados.
A pandemia da covid-19 intensificou um problema que vem se acumulando há, pelo menos, mais de 70 anos: a produção, o descarte e a falta de reciclagem efetiva de plásticos. Na publicação da Fundação alemã Heinrich Böll, o relatório Atlas do Plástico chama a atenção para o aumento do consumo de plásticos na pandemia, seja por conta das entregas de alimentos em casa, que cresceram com o isolamento social, seja pelo consumo de máscaras descartáveis e equipamentos utilizados na saúde. No Brasil, segundo a ABRELPE, a associação brasileira de empresas de limpeza pública e resíduos especiais, ocorreu um aumento de 25% a 30% na coleta de materiais recicláveis durante o período de Março a Dezembro/2020, assim como uma queda de 9% na coleta de resíduos sólidos urbanos – juntando a coleta domiciliar e limpeza pública, que vai direto para aterros sanitários. No entanto, o aumento na coleta não quer dizer aumento da reciclagem. Para efeito de comparação, a reciclagem de latas de alumínio chega a 97%, enquanto que para os plásticos, o percentual fica em 1% dos 11 milhões de toneladas de plásticos produzidos por ano.
O Atlas do Plástico ainda destaca outra informação preocupante: que o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, o que representa 13% do total dos resíduos sólidos produzidos anualmente pelo país, segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana, assim como ressalta que o consumo de embalagens descartáveis ganhou força a partir de 1950 com a descoberta de um resíduo da indústria petroquímica que poderia ser usado para fazer PVC. De 1950 a 2017, a humanidade produziu mais de 9 bilhões de toneladas de plástico, representando mais de uma tonelada para cada pessoa hoje viva no planeta.
Mundo à fora, entidades que trabalham no combate à poluição marinha, destacam que 325 mil toneladas de plástico chegam ao mar todos os anos, trazendo graves consequências para todo o meio ambiente. Ativistas suplicam que é preciso reduzir a quantidade de plástico colocada no mercado com urgência. Essa mudança no perfil do consumo doméstico e as medidas de isolamento social afetaram profundamente o ciclo da reciclagem.
Enquanto algumas cooperativas fecharam pela insegurança sanitária, outras chegaram a acordos com as Prefeituras para continuarem trabalhando durante o período de pandemia. Os autônomos, catadores em situação de rua, também diminuíram o ritmo. Agora, à medida que a reciclagem se mostra essencial e a demanda pelo serviço aumentou, a pandemia também deixou os trabalhadores do setor muito vulneráveis, já que o manuseio do lixo para coleta e separação é inevitável, há o medo constante de contaminação através do vírus que sobrevive em superfícies, principalmente de resíduos plásticos. A situação da pandemia aumentou a quantidade de recicláveis em lixões e aterros, e governos e empresas tiveram que investir no aumento da coleta, pois muitos catadores estiveram parados. Conforme a Associação Nacional de Catadores e Catadoras do Brasil (Ancat), o papel destes trabalhadores [catadores] não é visto como tinha que ser, é pouco remunerado, apesar de ser um trabalho essencial.
Contribuir para a valorização do serviço prestado por catadores – tanto do ponto de vista da autoestima, quanto do reconhecimento da sociedade e indústria é um dos objetivos que toda a sociedade, mas principalmente as prefeituras deveriam incentivar. Para quem vive a pandemia na pele e segue coletando, por causa do novo hábito das pessoas de pedir e se alimentar em casa, mas a maior quantidade vai para o aterro. Como não tem reciclagem, não tem valor para o catador, vai para um aterro, onerando consideravelmente os cofres públicos.
A falta de cuidados no manejo do lixo reciclável piora a situação porque ainda existe muito desconhecimento sobre como limpar os descartáveis, aumentando o risco de doenças ao gerenciar materiais que poderiam estar contaminados, mas, agora, o perigo é dobrado, além de tudo, ter que lidar com uma doença que ainda está em estudo. Para os catadores, a realidade se resume em trabalhar e se expor aos riscos de contaminação ou esperar a fome bater à porta dessas famílias já em situação de vulnerabilidade. No mundo e no Brasil, no momento em que políticas públicas de manejo de resíduos plásticos avançam em todo o mundo – com leis que restringem o uso de descartáveis e canudinhos, por exemplo– a pandemia chegou para que a sociedade voltasse algumas casinhas neste jogo.
De acordo com o WWF, o país é o quarto maior gerador de lixo plástico no mundo, pelo menos antes da pandemia. Mas dados sobre o destino dos resíduos ainda são raros e esse vácuo de informações vai demorar para ser atualizado com a nova realidade de uso de descartáveis.
A dificuldade em gerir o lixo e ampliar a reciclagem mostra como o atraso na resolução de problemas, na aplicação de políticas públicas e fiscalização, que já deveriam ter sido encarados, antes de uma emergência como a da pandemia. A incorporação formal dos trabalhadores de recicláveis, por exemplo, já foi prevista na lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 mas, até hoje, como a maioria dos termos da política, não saiu do papel. A pergunta emergente: É possível diminuir o uso de plásticos descartáveis durante uma pandemia? Quem já não viu nas redes sociais imagens de praias e mares repletos de máscaras e luvas descartáveis – a maioria provavelmente usada para prevenir da Covid-19 ou notícias do aumento do consumo de plástico descartável, principalmente de embalagens. Era de se esperar, já que o maior produtor de matéria plástica é o setor de embalagens. O descarte delas responde por mais da metade de todos os resíduos plásticos gerados globalmente – a maior parte nunca é reciclada ou incinerada. O que a sociedade pode fazer neste momento? Separar o material é um hábito que não se pode perder. Lavar vasilhas, garrafas e outros recicláveis antes de mandar para a coleta. Não descartar luvas e máscaras em dias de coleta seletiva e, se possível, separá- las em sacolas próprias ou no lixo do banheiro. Por último, é importante valorizar e contribuir com iniciativas que ajudem os trabalhadores de materiais recicláveis.
Em Guaíba é sabido que hoje não há nem Coleta Seletiva, nem Cooperativa de Catadores. Em reunião na manhã de 12/01/2021, no Gabinete da Vice-Prefeita Claudinha Jardim, a União das Associações de Moradores - UAMG, entre outros assuntos, abordou essas duas questões, inclusive com a proposição de projeto específico para a organização de cooperativas por bairros ou zonas do município, realização de senso e treinamento dessa comunidade vulnerável, desde que a gestão, concomitantemente desse condições para o efetivo trabalho e a montagem de uma central de reciclagem municipal. Ideias expostas e recebidas com receptividade. A sociedade tem que se envolver, já que é agente atuante como consumidora de plásticos de potencial reciclagem, separar os resíduos limpos, colocar em sacolas nos dias diferentes à coleta de lixo urbano, conversar com aquele catador que passa todos os dias na frente das suas casas e combinar dele buscar esse resíduo. A roda da reciclagem tem que começar a girar e pequenas atitudes como essas sugeridas, fazem muita diferença.
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