Chegamos ao 25 de Dezembro e a primeira coisa que vem à nossa mente é aquele trecho da música de Natal que passa nos comerciais de televisão todos os anos: “Então é Natal, e o que você fez? O ano termina e nasce outra vez”. Assim, contentes abrimos o chamado “Ciclo Natalino”, que ocorre do dia 24 de dezembro (Véspera de Natal) até 06 de janeiro (Dia de Reis), ficando então, envoltos daquele clima tão característico de esperança, gratidão e amor.
O Natal é um dos festejos que fazem parte do folclore brasileiro e teve forte influência de outros povos e costumes. Salienta-se que o presépio de Natal foi criado por São Francisco de Assis, vindo para o Brasil com os povos jesuítas em 1584. Os Alemães são responsáveis pela Árvore de Natal. Já a famosa missa do galo é de origem portuguesa. Um antigo costume de colocar água e capim na porta de casa vem dos Italianos, era destinado aos animais do presépio. Já os poloneses tinham ritos de Natal muito próprios que envolviam o festejo em família, iniciando ao nascer da estrela Véspera na data do dia 24 de dezembro, bem como não consumiam carne e nem gordura nesta data e pediam pela proteção aos três reis magos.
Antigamente, neste período costumava-se dançar nas festas comemorativas o pau de fitas. Em alguns lugares esta fazia parte de um conjunto coreográfico que iniciava com a Jardineira e terminava com o Pau de fitas. Veja que nessas descrições nada se fala na figura do papai Noel, isso porque não faz sentido que no Brasil, onde nesta época do ano é verão e, portanto, calor, que se tenha um senhor naqueles trajes de frio. Assim nas palavras do saudoso folclorista Paixão Côrtes, em uma antiga entrevista concedida ao Correio do Povo em 2002, explica:
- “O verdadeiro Natal Gaúcho é uma festa da família, onde se comemora o nascimento de Cristo diante de um presépio, representativamente, com a presença do Menino Jesus na manjedoura, com burrico, vaquinha, ovelha, cânticos fundamentados em mensagens de um cristianismo puro e singelo, anunciando a chegada dos Reis Magos.”
São exatamente eles, os três reis magos, que são personagens do nosso típico Terno de Reis, que embora não praticado em todo o Estado, é popularmente conhecido. Consiste em grupos musicais que passam de casa em casa anunciando o nascimento de Jesus Cristo. De tradição portuguesa, surge no sul com a chegada dos açorianos e foi abordado no livro “Terno de Reis - Cantigas de Natal “ de autoria do folclorista acima citado.
Minha mãe, Ligia Costa, se recorda de alguns da infância. Conta ela que “os cantores chegavam de surpresa e começavam a cantar na frente da casa. No dia 06 de janeiro, tendo concordância, o dono da casa abria a porta e convidava o mestre do terno para entrar e assim iniciava-se a festa”. Ressalta ainda que a cantoria corria noite adentro e que o anfitrião oferecia ao terno o que tinha, como um prato de carreteiro ou algo do tipo.
Ora, me parece propício que no atual cenário recuperemos esse costume, ainda que em parte. Portanto, fica aqui o desejo de um abençoado Natal e o convite aos músicos de Guaíba para cantarem nos portões das casas no próximo 6 de janeiro, embora não seja possível concluir o rito e convidar a entrar, será, certamente mágico, no momento em que nos encontramos tão afastados. Para tanto, caso alguém se interesse fica aqui o início de terno de reis:
“Agora mesmo chegamos
Na beira de seu terreiro
Para tocar e cantar
Licença peço primeiro
Meu senhor dono da casa
Acordai se estais sonhando
Venha ver os Três Reis Magos
No seu rancho estão chegando."
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