Era 1844, aqueles anos andavam complicados de se viver, uma guerra que se arrastava já fazia anos, um governo que combatia aqueles que preparavam o Brasil para a maturidade, à custa de seus entes queridos. Existem tantos fatos que a história tratou de guardar para si, tantos outros contados por pessoas carregadas de propósito nas palavras, esquecendo da imparcialidade. De tudo há que se tomar o melhor e digerir o pior.
A força farroupilha tinha como grande vantagem muitos negros escravos que se atiraram as armas pelo sonho libertário. Eram conhecidos e ficaram gravados nos galardões do tempo como o Corpo de Lanceiros Negros. Nos galardões do tempo, porque aqui só tiveram amarguras, tristezas e ainda sofreram tiranamente nas pontas das espadas dos imperialistas, os que não morreram, foram conduzidos “livremente” para tornarem-se operários dos escravocratas disfarçados de liberais, em sua grande maioria no Rio de Janeiro.
Agora faça um esforço interior e ponha seu intelecto para funcionar: a Revolta Farrapa se deu por descontentamento dos patrões, que achacados pelo imperador, através dos impostos altos, da falta de recursos para a saúde e educação dos seus filhos e a falta total de subsídio aos estancieiros que peleavam diuturnamente pela defesa das fronteiras. Inflamados por tamanha abstinência sócio-política, arregaçaram as mangas e decidiram que precisavam se impor contra a rapinagem imperialista. Na estratégia de guerrilha, afinal era uma revolta que se iniciava, estavam os grandes estancieiros ou senhores de posse da corte como: Bento Gonçalves, Gomes Jardim, Bento Manoel, Antônio de Souza Netto, em seguida Giuseppe Garibaldi, David Canabarro, Onofre Pires, Teixeira Nunes, entre outros que definiriam utilizar da mão de obra escrava, prometendo a liberdade e alforria, em troca de seus trabalhos de guerreiros.
Sigam meu raciocínio relembrando a história. Os negros eram escravizados, sem perspectiva nenhuma de liberdade, rezando e lutando pela própria vida, recebem a oportunidade de ir à guerra, matar seus algozes e ainda poder sonhar com uma vida livre e digna, quem de nós não aceitaria lutar? Os senhores da guerra só não sonhavam é que esses negros, seriam tão astutos, sagazes, ágeis e exímios peleadores. Eles com suas lanças mais compridas e afiadas, impulsionavam-se contra os inimigos com uma força e imponência, que todos os temiam em combate. Traziam do convívio com os Charruas, a destreza e habilidade da guerra de a cavalo, a morte também era um caminho para a liberdade, afinal que pior aconteceria em seu destino encarcerado? E a revolta ganhava corpo, tomava rumos e se esgueirava entre as bandas orientais, serpenteando de um lado a outro por longos anos.
Tomados de precaução, com a escassez de recursos e já cambaleantes de pelear, os farroupilhas estavam se preparando para assinar um tratado que promulgava a paz e reconheceria o estado com ponto fulgurante da defesa de fronteiras. Porém, pairava no ar uma pergunta que assolava os senhores fazendeiros, os estancieiros do ciclo do charque e do couro. Quem faria o trabalho realizados pelos escravos? Se libertassem seus escravos e tivessem que pagar pela mão de obra, o lucro seria muito menor? Como viveriam esses libertos? Onde habitariam? Se eram uma força poderosa de guerra, quem os controlaria?
E de forma obscura e nunca elucidada, afinal não existem muitos manuscritos de guerra que esclareçam o que vos relato em seguida, recolhido de alguns autores que esse cronista recomenda para que tomem suas próprias conclusões. São importantes para gerar massa crítica Sandra Pesavento, Cristian Salaini, Cesar Pires Machado, Geraldo Hasse, Guilherme Kolling, Juremir Machado, Bernardo Vasconcelos, Raul Carrion entro outros.
No dia 14 de novembro de 1844, no Cerro de Porongos, o acampamento aguardando o tratado de paz, que era eminente, fora previamente desarmada a brigada de Lanceiros Negros e os demais, por conta do comandante-em-chefe David Canabarro. A noite escura escondia os mais de mil soldados imperiais que se aproximavam como lobos esgueirando-se por ovelhas, a corneta rompe o silencio taciturno e o prenúncio da investida mortal. Chico Moringue (Francisco Pedro de Abreu) comandante caramuru, aproveitando a situação, ataca e trucida os negros, poupando Canabarro e outros majoritariamente brancos.
Os negros que não foram mortos, acabaram capturados e enviados ao Rio de Janeiro para servir a corte. Alguns escaparam e foram ter com Teixeira Nunes a salva guarda, porém em seguida seriam dizimados num ataque dias depois. Há mais política e tramoia nessa investida que os alfarrábios possam nos contar, fica o sentimento de que não só de heróis é feita uma guerra, sempre há que se ver com os olhos da verdade, sempre há que se questionar a verdade, a verdade, nem sempre é a verdade.
O que dizer aos descendentes dos nossos irmãos negros mortos de forma desonrada e maléfica? Nada além de perdão, pois pagamos com a morte, a quem doou a vida por nossa causa libertária. Perdão meus irmãos negros, perdão meus irmãos lanceiros, nada apagará seu feito heroico, tantos esconderão os feitos hediondos e traiçoeiros cometidos contra sua guarnição, mas o Rio Grande tem nos lanceiros negros as façanhas de que fala seu hino. Sirvam as suas façanhas, ó lanceiros, de modelo a toda a terra!
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