A influência negra na conquista e defesa desse Rio Grande de Deus vai muito além dos lanceiros negros de Teixeira Nunes. Essa raça valorosa, que foi arrancada de sua terra mãe, provou que, além de mão de obra bruta e incansável, peleava com tamanha gana e agilidade, que os destacaram nos cenários de defesa das fronteiras pela coroa portuguesa contra os desmandos hispânicos.
A época os tratados entre as coroas portuguesas e espanhola levavam as linhas limítrofes da geografia política, de um estreito ao outro em frações de meses. Nessa inconsistência de delimitação, os “descobridores” (ora me poupe e por favor, que balela, “descobrir” terras onde já habitam os que dela sobrevivem, isso não é descobrir, é roubar) aproveitavam-se dos desmandos e assassinavam até a geografia, tentando estabelecer, de alguma forma, território ou sacar as riquezas que eram possíveis naquelas épocas.
A coroa portuguesa precisava demarcar suas fronteiras, reservar e garantir a posse das terras mais ao extremo sul do país, que eram tão frondosas e ao mesmo tempo hostis. Desde Martin Afonso de Souza em 1531, a construção da Colônia de Sacramento, o ponto de fincar o pé e lutar pelo território se dá quando José da Silva Paes, então Brigadeiro ergue o Forte Jesus, Maria e José, fundando junto do forte, a primeira povoação do nosso estado amado.
Muito bem. Nesse contexto todo nossa maior preocupação com a garantia de fronteiras eram os espanhóis. Eles tentavam a todo momento estender suas terras e faziam isso a força. Usando táticas de guerrilhas, atacavam as provisões, bloqueios dos recursos naturais e acessos em geral.
Naquela época, como o Sul estava distante do centro do país, a chegada de recursos era morosa e o poder central focava todos os esforços na extração de minérios. Em 1771 a situação político-militar do continente de São Pedro estava assim. No lado espanhol expulsos os Jesuítas por exigência do governador de Buenos Aires Vértiz y Salcedo. Rio Grande se mantinha a Bruno de Zapalla, o antigo posto de Santa Tecla é tomado e se torna um fortim.
Impossibilitado de mobilizar o exército, a ordem da junta governativa do Rio de Janeiro foi para a utilização de táticas de guerrilhas pelos valorosos brasileiros que aqui habitavam. Começaria então a Guerra Gaúcha. A ordem tinha o seguinte texto:
“A guerra contra o invasor será feita com pequenas patrulhas atuando dispersas, localizadas em matos nos passos dos rios e arroios. Destes locais sairão ao encontro dos invasores para surpreendê-los, causar-lhes baixas, arruinar-lhes cavalhadas, gados e suprimentos, e ainda trazê-los em contínua e persistente inquietação”.
Nesse momento destaca-se o exitoso tenente dos dragões Rafael Pinto Bandeira, com seu corpo de guerrilheiros negros. Com cerca de 80, Pinto Bandeira marcha para interromper o avanço do exército de Vértiz, apoiado por 200 dragões do exército de Rio Pardo, ataca o forte de São Martinho.
Em 2 de janeiro de 1774, Rafael Pinto Bandeira, conduzindo “o horror de negros valentes que o medo não conhecia”, bateu e aprisionou em Santa Bárbara (hoje Encruzilhada do Sul), a coluna proveniente das Missões com valiosos reforços logísticos, cavalhadas, bestas e bois de carga. O HORROR DE NEGROS VALENTES QUE O MEDO NÃO CONHECIAM sob o comando de Rafael nos matos, passos e arroios vindo não se sabe de onde indo não se sabe para onde assaltavam as tropas, causavam danos, terror, inquietação, nunca dando sossego ao inimigo. Isso obrigou o Exército de Vértiz y Salcedo bater em retirada.
É criação poética de um sargento do Exército Espanhol a frase horror de negros valentes que o medo não conheciam, e completada pelo testemunho de fazer-se nunca presente. Isto é: não entravam em combate convencional.
“Alli nos desembarcamos
Com sumo gusto y placer.
Como se dexa entender
Según los sustos que passamos
Mas apenas acampamos,
Quando ya mi compania
Com otras quatro tenia
Ordem de salir corriendo
Contra um fidalgo tremendo
Pinto Bandeyras llamado
Era em efecto este tal
Fidalgo de Portugal
Y era coronel graduado:
Llevava sempre a su lado
Según vozes diferentes
Horror negros valientes
Que el temor no conociam
Mas por Dios que no queriam”
“Mas não ficou aí a contribuição desses bravos heróis anônimos, aos quais se deve em grande parte um Rio Grande do Sul brasileiro”. Hoje, os milhões de filhos do Rio Grande do Sul devem muito, mas muito mesmo, à obra épica realizada pelos bravos guerrilheiros negros de Rafael Pinto Bandeira e de Cipriano Cardoso, que não chegaram a numerar cem homens, mas superaram muito mais de mil para defender as divisas e o povo dessa terra. Eram os dragões negros de Pinto Bandeira, valorosos e destemidos pelo sul do sul deste Brasil Grande do Sul.
Oferecimento:
- Assine já Fibra Óptica em Guaíba com a RS Internet
- Consulte já com os especialistas em Odontologia e Sono na Dental Link
Comentários: