Faço uma pausa calculada dessa correria que é ganhar a vida, levar os projetos, vender o produto e fortalecer a imagem.
Tenho determinado na minha cabeça o quanto de tempo que posso gastar escrevendo minha coluna e depois esquentando o almoço, tomando um banho e indo para o centro onde tenho compromissos agendados. Eu tenho o senso de urgência e a noção do atraso.
É preciso ganhar a vida. Tempo é dinheiro! E já diziam os antigos: barco parado não faz frete.
Então hoje vou fazer do meu sagrado ofício uma tarefa comum. Profissionalizando a poesia e entregando-a empacotada — Segue pontual o anexo sem alma.
E, com sorte, em meio a tudo isso, vou respirar. Com a esperança de dormir tranquilo e sem sobressaltos em alguma noite do futuro próximo. Quando os sonhos parecerem estar realizados. Quando a linha de chegada ficar para trás dos calcanhares e o corpo se permitir relaxar.
Mas não hoje: Hoje trabalhamos.
Quando foi que a gente entrou nesse turbilhão de loucura? Nem sei.
E quando a gente vai sair dele? Sequer imagino.
Correr atrás dos sonhos é uma cachaça boa e viciante como outra qualquer. Mas viver na embriaguez da pressa e nessa ânsia da vitória, por mais que tal impulso nos mova para muito longe, traz sequelas mentais e físicas. Traz também outros prejuízos não mensuráveis, nos momentos que passaram voando e nem foram apreciados; nas reações automáticas que não permitiram aprofundamentos significativos em conversas que poderiam ter sido importantes; nas coisas e pessoas que tinham tudo pra nos abrir um novo mundo, mas para as quais nem paramos para dizer “olá”; na epifania não manifestada na contemplação demorada de uma paisagem.
Isso é Brasil, sabe? E eu não digo que não tenhamos que correr. Não afirmo que se trate sempre de ter uma escolha. Aqui, na base da pirâmide, corremos principalmente para fugir e não para alcançar. Porque a miséria é um caminhão que vem rápido e se pararmos ela nos atropela!
Mas, quando for uma situação em que possamos parar e acariciar os pêlos macios do ócio, pensando em nada, num momento sem necessidade de futuro... Ah, quando a ansiedade nos der folga e o mundo nos permitir um dolce far niente, mesmo sem o email enviado, o estudo concluído ou a meta cumprida, devemos calar a boca do compromisso, o sino do atraso, a sirene da urgência e gastar cinco, dez, quarenta minutos apenas existindo, concentrados em respirar. Há nisso dezenas de conquistas. Isso é viver no agora o que o mundo, e você mesmo, te faz crer que só existe lá, depois de todo esse horizonte que jaz atrás das linhas de luta e trabalho árduos.
Acho positivo a vontade de querer chegar, mas importante lembrar que o “agora” também é um lugar do futuro.
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