Aposto que você, caro(a) leitor(a), muitas vezes já se pegou dizendo a alguém que estava sem tempo pra fazer alguma atividade. Ah, você tem dito isso quase todo dia? Ok, fazemos parte do mesmo clube então… E às vezes essa atividade se trata de desenvolvimento e lazer ao mesmo tempo.
Sim, pois a leitura é excelente tanto para aprimorar o conhecimento quanto para entreter. Seja para aprender coisas novas, estudar para alguma causa ou para mergulhar nas mais variadas histórias de ficção ou não, ele está ali. O livro é e sempre será uma das melhores fontes de sabedoria. Seja ele físico ou digital, o tenho como ótima companhia para as horas vagas. Mas como hoje em dia, em nosso ritmo de vida tão acelerado, dificilmente temos mais as boas e velhas “horas vagas”, por que não aproveitar para consumir conteúdo de qualidade nos minutos vagos durante o dia?
Em 2010 resolvi iniciar a experiencia de ouvir podcasts. É, eles já existiam naquela época mas não eram tão famosos quanto hoje. Especialmente sobre língua inglesa e administração, eu os buscava, baixava, colocava dentro de um pen drive (que velho! - mas não existia Spotify ainda…) e os escutava no rádio do carro, enquanto ia e voltava ao trabalho - trajeto entre Guaíba e Eldorado do Sul. Naquela uma hora de conteúdo diária eu percebi que poderia ouvir livros inteiros em questão de dias somente no deslocamento ao trabalho. Uma atividade corriqueira na qual muitas pessoas “perdem” até mesmo duas horas ou mais por dia, sendo que muitos apenas ficam navegando pelas redes sociais. Mas isso é um assunto que vai render uma próxima coluna…
Já em 2018, antes de tirar umas férias em Ilhabela, passei alguns dias na capital paulista. E lá, na cidade mais corrida do país, um fato me chamou atenção: na calçada bem em frente ao famoso e imponente Edifício Itália, no Centro, um rapaz jovem e de mochila nas costas passou por mim com passos um tanto rápidos, porém com um livro aberto em mãos. Olhei por mais alguns segundos para me certificar de que… sim, ele estava lendo o livro enquanto caminhava na rua! Como eu nunca havia visto tal cena, fiquei surpreendido.
Pouco tempo após o episódio me deparei com a notícia de uma pesquisa sobre hábitos de leitura dos brasileiros. Dizia ela que um brasileiro lê, em média, dois livros por ano. Claro, há quem não leia um sequer. Lembrei na hora do que havia feito com os podcasts e do rapaz de São Paulo e resolvi iniciar uma nova experiência: passar a carregar um livro na mão ou mochila toda vez que saísse de casa para meu escritório ou vice-versa, durante os intervalos do dia de trabalho. O motivador foi o elevador. E o resultado foi surpreendente.
Há quem fique usando o celular; outros, olhando o visor subir até o seu andar; alguns, ainda, se arrumam no espelho. Mas quando percebi que gasto cerca de 10 minutos por dia no elevador, não pensei mais em fazer nenhuma das ativadas anteriores além de pegar meu livro, abrir na página marcada e ler até que a porta se abra novamente. Para mim, a ação foi um bom tapa na cara da procrastinação, que me fazia acumular livros sem lê-los - pois sempre há “algo mais importante pra fazer”, né?
Percebi que dessa forma leio cerca de cinco páginas por dia. Ora, 10 minutos não dão muito tempo mas, pelo menos, o hábito já está pago naquele dia. Há de se somar ainda os dias em que há fila, onde tenho que esperar um pouco mais pelo tal transporte vertical. Contudo, ao longo de um ano, consigo ler até 10 livros de 140 páginas (relativamente pequenos) ou uns seis de 230 (já um tanto grandes). E não precisei fazer o que o ser humano tem maior dificuldade atualmente: arranjar tempo no dia para encaixar uma nova atividade. Somente otimizei o que já fazia no automático todo dia.
Claro que todo bônus tem seu ônus. O fato de picar a leitura em pequenos pedaços faz, muitas vezes, perder o fio da meada da história, tendo de procurar em qual parágrafo parei ou voltando algumas linhas para lembrar do trecho. Obviamente também há o bom senso de não levar o livro quando estou conversando com alguém ou acompanhado de algum cliente, por exemplo. Mas vejo a experiência como um bom complemento, pois ainda continuo lendo em casa à noite e aos fins de semana. Somente fico meio intrigado com o que as pessoas acham da situação, pois percebi que, quando me veem lendo no elevador, me olham com espanto, como se eu fosse um extraterrestre…
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