Apesar da distância, a Amazônia é responsável pela dinâmica das chuvas nos biomas: Floresta Amazônica, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica, com focos de incêndios sendo os maiores desde 1988.
O aumento da devastação dos biomas tem relação com a forte estiagem registrada em 2021, já que a falta de chuvas na região amazônica tem relação direta com o que ocorre há milhares de quilômetros dali. Já a consequência de queimadas intensivas e periódicas são o aquecimento global, perda de biodiversidade em fauna e flora e problemas de saúde como asma, câncer de pulmão, rinites, sinusites, bronquites, conjuntivites, irritação dos olhos e garganta, tosse, falta de ar, alergias diversas e problemas de pele, entre outros. .
Cientistas afirmam que há diversos estudos no Brasil que demonstram como a umidade que sai da Amazônia abastece outras regiões do país, no Centro Oeste, Sudeste e Sul e seus respectivos biomas, interferindo na geração de energia hidrelétrica, no aumento dos gases do efeito estufa e no aquecimento global, na agronomia, na pecuária e na saúde dos cidadãos, muitas vezes gerando problemas não identificados anteriormente ou de difícil relação.
Tudo isso ocorre por um fenômeno conhecido como Rios Voadores, que em função do ciclo dos ventos alísios e da Cordilheira dos Andes, estas correntes gasosas de água ambulantes empurram a umidade da transpiração da floresta amazônica em direção ao centro-sul do Brasil. Quando há uma estação mais seca na floresta, com aumento do desmatamento e de queimadas, ocorre desequilíbrio dessas correntes úmidas e de todo o sistema hidrológico envolvido. A consequência é uma redução nas chuvas e na umidade no Pantanal e no Cerrado, o que favorece a proliferação de incêndios e geram perdas nos agronegócios e problemas de saúde coletivos.
A situação da Amazônia também é vista como um fator que influencia a devastação do Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, pois o desmatamento da floresta tem reflexo sobre a dinâmica na floresta tropical, uma vez que as chuvas provocadas pelos rios voadores regulam as cheias desta região, amenizam o calor, dissolvem poluentes e decantam material particulado.
Analistas do IBAMA, MAP BIOMAS e Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação apontam que há décadas se observa um desregramento do regime de chuvas no local, de forma gradativa, com um volume elevado de pluviometria se concentrando em poucos dias. Este grande volume de chuva precipitando em um curto espaço de tempo não permite que o solo absorva a água e alimente o lençol freático, escoando para rios, gerando enchentes aos ribeirinhos e não permitindo que a evaporação promova a formação de rios voadores que alimentariam de boas águas o restante do país.
De acordo com estudiosos, as cabeceiras dos rios que correm para o Pantanal nascem no Cerrado e na Amazônia e por terem sido 60% devastadas são ocupadas com monocultura e gado. É muita soja cuja plantação vai até a borda do rio, sem respeitar os limites de APP – área de proteção permanente de 30 metros mínimos. Então quando chove, os sedimentos descem para dentro dos leitos e vão assoreando os rios, deixando-os cada vez mais rasos e ineficientes na evaporação..
O país vem enfrentando a pior seca dos últimos 91 anos e é sabido que culturalmente, a exemplo do que houve em 2019 e 2020, a imensa maioria delas tem relação na renovação de pasto em grandes propriedades rurais, que preferem o risco do fogo à roçada mecânica. Também há uma tentativa frustrada do Governo Federal de tentar imputar a devastação às comunidades ribeirinhas, mais vulneráveis socialmente, como se fosse possível que sejam as roças de subsistência que estão por trás de todos os incêndios que geram cerca de 1 bilhão de ton. CO2/ano.
Especialistas de diversos órgãos governamentais, ONG’s e universidades são unânimes em apontar que desde 2014 vem ocorrendo um esvaziamento constante dos reservatórios e que todos os incêndios nos biomas brasileiros são de origem humana, uma vez que fogos provocados por descargas elétricas estão descartados, tendo em vista a quase não formação de nuvens de chuva nos últimos meses.
Não existe queimada controlada quando o grande objetivo do monoculturista é ampliar sua área de plantio ou de gado às custas do comprometimento da saúde de comunidades inteiras.
No sentido de controlar a devastação dos biomas brasileiros, o Ministério do Meio Ambiente continua tentando alterar a meta de redução de desmatamentos e incêndios ilegais. O Plano Plurianual do Governo Federal, com validade até 2023, previa redução de 90% da devastação. Depois de propor a troca deste objetivo por outras metas que delimitavam a diminuição das queimadas a certas áreas, o MMA deu sinal de que recuou da ideia, criticada por ambientalistas e partidos de oposição e a polêmica fez com que até o Ministério da Economia se envolvesse. Relembrando que o Brasil já tem meta de redução de 100% do desmatamento ilegal até 2030, previsto na nossa NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) e que esta seria mantida. .
Ainda não está claro, no entanto, se haverá uma redução da meta para 2023, apesar de órgãos e governos parceiros do agronegócio já apontarem para uma redução de mercado dos produtos brasileiros advindos das queimadas, do enfraquecimento das políticas públicas voltadas ao meio ambiente e da não preservação dos biomas no Brasil.
Especificamente no que tange à saúde pública, os estudos dos efeitos das queimadas são muito escassos, tanto no Brasil quanto no exterior, em especial nos países vizinhos. Tal fato se deve em grande parte à variedade de aspectos envolvidos e à dificuldade em se separar causas isoladas de um determinado efeito. Pesquisas em saúde ambiental são bastante complexas à medida em que a saúde humana depende de uma teia de fatores interligados: exógenos (bióticos e abióticos), endógenos (fisiológicos e anatômicos), comportamentais (psicológicos, sociais, econômicos e culturais) e da densidade demográfica.
Estudiosos em saúde afirmam que, em virtude de alterações nos ecossistemas, há um risco potencial de modificações na presença de vetores de doenças infecciosas e nas atividades de fotossíntese de cultivos agrícolas que eventualmente podem desencadear efeitos na própria nutrição humana.
Quanto maior a proximidade de uma população da queimada, geralmente é maior o seu efeito à saúde, mas a direção e a intensidade das correntes de ventos tem muita influência sobre a dispersão dos poluentes atmosféricos, particulados, teor de calor e sobre as áreas afetadas pela pluma oriunda do fogo. .
Se os ventos predominantes se dirigirem para áreas urbanas ou áreas densamente povoadas, a exemplo de Goiânia e Palmas, um número maior de pessoas estará sujeito aos efeitos dos contaminantes aéreos. Entretanto, no interior do Brasil, os mais afetados tem sido comunidades pequenas, mas não isoladas.
São emitidos vários poluentes clássicos da queima de biomassa, principalmente NOx, SOx, CO, CO2, Hidrocarbonetos policíclicos, dioxinas, furanos e material particulado. O efeito agudo à saúde da população em geral fica restrito àquelas pessoas mais próximas à área da queimada, em especial as que estejam atuando no seu combate. O efeito pode ir de intoxicação até a morte por asfixia, pela redução da concentração de oxigênio em níveis críticos e pela elevação no nível de monóxido de carbono, que compete com o oxigênio na sua ligação com a hemoglobina.
A concentração dos poluentes clássicos, exceto material particulado, muitas vezes tem atingido níveis que excedem os limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde e aqueles adotados no Brasil como padrões de qualidade do ar. Os níveis registrados mostram elevação da concentração de background na região amazônica, apesar de frequentemente serem medidos logo acima do nível do solo, longe da zona respiratória da população.
A quantidade de calor gerada nas queimadas faz com que a densidade dos gases tóxicos se torne menor do que a do ar, causando a elevação dos gases resultantes e de partículas, que atingem alturas consideráveis durante o processo de dispersão da fumaça na atmosfera.
Estudos indicam que os principais efeitos à saúde humana da poluição atmosférica oriundas de queimadas e falta de chuvas ara lavagem do ar são problemas oftálmicos, doenças dermatológicas, gastrointestinais, cardiovasculares, pulmonares de pele, além de alguns tipos de câncer. Efeitos sobre o sistema nervoso também podem ocorrer após exposição a altos níveis de monóxido de carbono no ar. Um aumento na temperatura do ar tem impactos na distribuição da flora e da fauna e, consequentemente, influencia a distribuição de doenças transmitidas por vetores.
Já se tem base científica para afirmar que a poluição do ar advindo de queimadas de biomassa tem efeitos negativos para a saúde humana. Os impactos decorrentes dos gases emitidos pela combustão de biomassa ainda não foram bem avaliados, mas afetam um número significativo de pessoas, sobretudo nos países como o nosso, onde a queimada constitui uma prática agrícola bastante difundida.
Esse conhecimento é importante para a definição de políticas de controle e de estabelecimento de padrões de qualidade do ar específicos para o caso das queimadas. O monitoramento e o estabelecimento de padrões de qualidade do ar, muito usados para avaliar e controlar a qualidade do ar urbano, mostram-se inadequados para avaliar a poluição causada por queimadas e não levam em consideração a exposição a concentrações extremamente elevadas a curto prazo.
Quais os impactos da poluição do ar à saúde daqueles já prejudicados por alguma doença, pela idade ou por condições socioeconômicas? Esta parece ser uma questão a ser respondida pelas pesquisas, para que seja garantido o direito universal ao ar limpo e como as situações são muito dinâmicas, os estudos vem avaliando os riscos de novos agentes e de novas situações.
Com todo o exposto, finalmente chegamos à conclusão do perigo, das consequências na vida da população brasileira, em sua saúde e no bolso, já que a cobrança na conta de luz vem à galope.
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