Segundo dado do IBGE divulgados no primeiro trimestre do ano, considerando a forma como o estudo é feito (% sobre a população economicamente ativa - sem contar os informais e milhões de brasileiros em sitaução de rua), temos 11% de desempregados no Brasil, aproximadamente 12 milhões de pessoas. Dessa forma, com a economia parada, economistas projetam que o desemprego pode passar de 11% para quase 41% , aumento de 30 pontos percentuais (Fonte: Gazeta do Povo, março 2020).
No entanto vamos imaginar que o economista esteja exagerando o impacto econômico e calcular 50% de desemprego adicional. Caso tenhamos um aumento de apenas 15 pontos percentuais (e não 30) no número de desempregados, passando de 11% para 26%, teríamos mais 15 milhões de desempregados. Dessa forma, com a economia parada, estes 15 milhões de pessoas não teriam onde buscar emprego.
Diante disso, digamos que apenas metade destes novos desempregados (novamente em cenário “otimista”) entraria em situação de miséria e fome – 7,5 milhões de pessoas a mais, por ano. Sem contar moradores em situação de rua, desocupados, desalentados, etc.
Sabe-se que aproximadamente 0,1% das pessoas que passam fome, morrem por desnutrição. Em um ano, teríamos mais 7500 mortos por desnutrição. Assim, se somarmos aos 6 mil que morrem habitualmente, teríamos 13.500 mortos por desnutrição em 1 ano. Isto é, “Em um cenário otimista”. Portanto, esse número pode ser até 10x ou 20x maior, num cenário pessimista.
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A saber, que cerca de 2/3 dos contaminados com a COVID 19 não manifestam sintomas e, portanto não são testados. Igualmente, há um número significativo de pessoas que contrai a doença, manifesta algum sintoma, porém também não é testada, se recupera sem maiores problems em casa. Portanto, com certeza o percentual de contaminados pelo vírus no mundo é muito maior do que o registrado e, por consequência, o % de pessoas que morrem é inferior a 4,5%.
Então, hipoteticamente, o Brasil, em um ano, em um cenário em que não houvesse nem isolamento horizontal nem isolamento vertical, só com as pessoas mais atentas às normas de saúde, alguma pequena restrição em aglomerações, teríamos um cenário catastrófico, com 10 milhões de casos confirmados da doença (20x o total atual no mundo), com 0,4% de mortes.
Vejamos então: Em um cenário em que você consegue isolar os grupos de risco, talvez ainda sim tenhamos muitos casos, mas 90% deles não precisariam de internação médica, tornando o % de mortos muito menor. Infelizmente, pessoas vão morrer de uma forma ou de outra, com ou sem isolamento. Definitivamente falando, o isolamento aos grupos de risco principalmente neste momento é necessário, porém, se não for alterado de horizontal para vertical, se não forem tomadas medidas de recuperação da atividade econômica, as consequências sociais e de saúde serão inimagináveis, catastróficas.
Enterraríamos milhares de pessoas porque não tiveram o que comer. E não seria por 1 ano, mas por décadas sucessivas. O Brasil não é a Europa. 70% das famílias vivem com menos de 2,5 mil reais por mês. Em outras palavras, organizar uma estratégia de reativar as atividades econômicas, com o mínimo de danos possíveis para a população, isolando grupos de risco, com mais testes, de modo a identificar novos casos e isolamento destas pessoas até sua recuperação. Não queremos catástrofes, seja por coronavírus, fome, desnutrição ou outra razão.
* De acordo com relatório da ONU para Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) a fome atingiu 5,2 milhões de pessoas no Brasil em 2017. Destes 5,2 milhões, 5.653 pessoas morreram de desnutrição naquele ano. Além disso, o mesmo relatório da ONU aponta que cerca de 3% das pessoas passam fome no Brasil – aproximadamente 6 milhões de pessoas por ano. Destas, cerca de 0,1% morre de desnutrição. Ou seja, 6 mil pessoas morrem de fome no Brasil, todos os anos.
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