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Segunda-feira, 02 de Dezembro de 2024

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“Ódio do bem”: a morte de Olavo de Carvalho e a normatização da polarização extrema na sociedade brasileira

Na família dos “nós contra eles”, o “ódio do bem” é primo-irmão do “tudo bem se me convém”

Guilherme Zawacki
Por Guilherme Zawacki
“Ódio do bem”: a morte de Olavo de Carvalho e a normatização da polarização extrema na sociedade brasileira
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Um simples rolar de Stories no Instagram nos revela que chegamos em um nível de dualidade na opinião pública que abre uma fissura - quiçá incurável - na sociedade civil.

No dia da morte de Olavo de Carvalho, polêmico escritor e filósofo brasileiro que morava nos Estados Unidos, eu abro os primeiros Stories e analiso. Uma pessoa repostou uma manchete do portal O Sensacionalista: “Onda de calor foi causada por portas do inferno se abrindo pra receber Olavo de Carvalho, diz meteorologista”. Ao passar pro lado, já o próximo story de outra pessoa dizia: “Ainda que indiretamente, hoje todos perdem um pouco. Que legado! Descanse em paz Olavo de Carvalho”. Por conhecer pouco da obra do pensador, não vou adentrar aqui em julgamentos sobre suas visões. Fato é que ele foi odiado e adorado talvez em proporções semelhantes. 

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Mas acredite, houve quem celebrou a morte dele. Mas… também houve quem hostilizou Lula quando seu neto faleceu e ele estava preso. Mas… também há a Folha de S. Paulo que publicou um texto do colunista Hélio Schwartsman entitulado “Por que torço para que Bolsonaro morra”, quando o presidente foi diagnosticado com coronavírus em julho de 2020.

Dica: uma boa forma de conhecer uma pessoa é analisando o que ela fala depois dos “mas”.  Já reparou alguma vez? “Não sou racista, mas… / Respeito LGBTQIA+, mas… / Respeito sua religião, mas…”. Acho que, se tratando de algumas convenções sociais amigas do bom senso, o ponto final deveria vir antes dessa conjunção. 

Agora há que se compreender duas verdades - neste caso convenientes - que parecem estar por aqui desde que um português decidiu subir numa caravela e gritou “segue reto toda vida!”. Uma é que a tenacidade da linha entre a convivência com civilidade e a barbárie deveria ser mais ampla do que temos visto por aí recentemente. Já a outra é que o “ódio do bem” é primo-irmão do “tudo bem se me convém”, este último nosso velho conhecido… No fim me pergunto quão repugnante pode ser a atitude de uma pessoa em desejar ou comemorar a morte de alguém. Colem cartazes Brasil afora com “procura-se” para a razoabilidade mínima, por favor.

Estamos normatizando uma polarização à la segregação dos “nós contra eles”, que se agrava ainda mais este ano com as eleições no Brasil. Contudo espero que nas ruas tal discussão, de fato, não chegue a “vias de fato”. Acredito que mais tolerância mútua e menos “ódio do bem” a todos convém - e a todos faz bem.

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