Em 2021, o Reino Unido sediará a conferência que é considerada determinante para o controle das mudanças climáticas do planeta. O encontro será em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro e a expectativa é que levará os líderes mundiais a gerar grandes mudanças no nosso dia a dia.
São esperadas cerca de 25 mil pessoas em Glasgow, incluindo ambientalistas, negociadores e jornalistas, além dos líderes mundiais. Milhares de ativistas e empresas também participarão de eventos e realizarão protestos.
O evento global será mais uma chance para o Brasil tentar reverter a imagem negativa em termos ambientais frisada desde o início do governo Bolsonaro e manchada na reunião da ONU em setembro deste ano. Para especialistas, se o Brasil quer ter chances de reverter a realidade ambiental do país, que sofre com recordes de queimadas, desmatamento e as políticas públicas não dão sustentação aos discursos proferidos internacionalmente, precisará dar demonstrações concretas de que está comprometido com a preservação ambiental no atual cenário e não somente no futuro.
Para essa conferência, 200 países deverão apresentar seus planos de corte de emissões atmosféricas até 2030, já que desde o acordo de Paris em 2015, concordaram em promover mudanças para manter o aquecimento global muito abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais - e tentar atingir 1,5°C - para evitar uma catástrofe climática, até chegar à neutralidade nas emissões de carbono em 2050.
Fonte: Universidade da Califórnia Berkeley/ BBC Brasil
Diante da realidade de um planeta cada vez mais quente e demonstrada no gráfico da Universidade da Califórnia, tanto o Brasil como outras nações poluidoras precisam de ações práticas e de imediato, já que são cobradas pelas ações adiadas contra o aquecimento global, desmatamento, instituição de políticas de energia limpa, etc., que ficaram no discurso em 2020 e vão ao desencontro do Acordo de Paris.
Já com pose de pavão, o novo ministro de Meio Ambiente Joaquim Leite promete que o país terá “posição de destaque” e “trabalhará para promover o crescimento verde”. A aposta do Brasil está nos chamados “empregos verdes” e no álcool como substitutivo à gasolina e diesel. Para a ONU, objetivo do governo federal deveria ser a implementação de ações práticas e metas contundentes para toda a cadeia produtiva verde, incluindo incentivos tributários às empresas que remodelassem a produção e equipar os órgãos de pesquisa e fiscalização.
Em vários eventos internacionais, o Brasil se comprometeu a reduzir 43% das emissões de carbono, no período de 2005 a 2030, porém essa meta é considerada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) insuficiente para que haja diferença no planeta. Na prática, além de não estar fazendo nada dentro daquilo que assumiu como compromisso, o Brasil precisa aumentar sua meta para 50% de redução e fazê-lo em termos de redução absoluta, porque o país tirou do documento que vai ser levado para a Escócia exatamente a previsão de que essa redução se faça em caráter absoluto.
A maioria dos países submeterá seus planos de redução de emissões antes do início da conferência, sendo possível avaliar se o mundo dialoga para alcançar a meta do Acordo de Paris, apesar de esperados novos anúncios de práticas. A expectativa é que as propostas sejam técnicas, incluindo regras que ainda são necessárias para implementar o Acordo de Paris, como:
- Mudança mais rápida do modelo de transporte público e privado para uso de carros elétricos;
- Acelerar a eliminação da energia a carvão;
- Minimizar o corte árvores para favorecimento da biodiversidade;
- Proteger mais pessoas dos impactos das mudanças climáticas, financiando, por exemplo, sistemas costeiros de defesa contra eventos climáticos adversos.
Ainda no campo das discussões, é esperado que haja diálogo sobre os recursos financeiros e a justiça climática, já que países em desenvolvimento tendem a poluir menos e não são responsáveis pela maior parte das emissões do passado, porém são estes os principais afetados pelas consequências das mudanças climáticas em atividade.
Uma batalha será travada pelos países desenvolvidos sobre as compensações para países em desenvolvimento afetados pelas mudanças climáticas. Países ricos anteriormente prometeram US$ 100 bilhões/ano para auxiliar nações menos favorecidas até 2020, o que não se viu em virtude da pandemia de SARS-COV-19.
Para o diretor-executivo do Instituto Global Attitude, representante da sociedade civil na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, Rodrigo Reis, a postura da comitiva brasileira na COP-26 será ainda um teste no cenário diplomático, afirmando que a presença do Brasil no evento não será somente relacionada ao clima, mas uma prova de relações internacionais para ver como vai se posicionará num palco multilateral.
Enquanto isso, nós brasileiros e comprometidos com as causas ambientais ficamos na expectativa de ações primárias e não mais discursos na esfera da “imaginação.”
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