O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na sexta-feira (10) novos dados sobre a insegurança alimentar no país. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, o número de pessoas que enfrentam fome diariamente caiu de 8,47 milhões em 2023 para 6,48 milhões em 2024. A redução representa uma queda de 23,5% em um ano, o menor índice desde 2004, quando o levantamento começou a ser realizado.

O estudo mostra que cerca de 2 milhões de brasileiros deixaram a condição de insegurança alimentar grave, situação em que há falta de qualidade e quantidade de alimentos para toda a família, incluindo crianças e adolescentes. Apesar da melhora, o país ainda contabiliza cerca de 2,5 milhões de famílias em situação de fome, enquanto 18,9 milhões de lares apresentam algum nível de insegurança alimentar — leve, moderado ou grave. Isso significa que um em cada quatro domicílios brasileiros ainda enfrenta algum grau de dificuldade para garantir alimentação adequada.
O levantamento também revela que a proporção de lares em segurança alimentar aumentou de 72,4% para 75,8% entre 2023 e 2024. Já os domicílios em insegurança alimentar moderada — quando há redução na qualidade e na quantidade de alimentos consumidos por adultos — somam 9,79 milhões de pessoas, contra 11,66 milhões no ano anterior.
As desigualdades regionais seguem evidentes. As regiões Norte e Nordeste continuam concentrando as maiores proporções de insegurança alimentar. No Norte, 37,7% dos domicílios registram algum grau de insegurança, sendo 6,3% em nível grave. No Nordeste, os percentuais são de 34,8% e 4,8%, respectivamente. Em contraste, as menores taxas estão no Sul (13,5% no total e 1,7% em nível grave). Em números absolutos, o Nordeste lidera com 7,2 milhões de domicílios afetados, seguido pelo Sudeste (6,6 milhões), Norte (2,2 milhões), Sul (1,6 milhão) e Centro-Oeste (1,3 milhão).
Entre os estados, Pará (44,6%), Roraima (43,6%) e Amazonas (38,9%) apresentaram as maiores proporções de lares em insegurança alimentar. No nível mais grave, Amapá (9,3%) e Amazonas (7,2%) lideram. Em contrapartida, Santa Catarina e Espírito Santo estão entre os nove estados com menos de 20% dos domicílios nessa situação.
O estudo também destaca diferenças entre áreas urbanas e rurais. A insegurança alimentar atinge 31,3% dos lares rurais, contra 23,2% dos urbanos. No nível grave, a proporção é de 4,6% e 3,0%, respectivamente. A renda e o tamanho das famílias também influenciam diretamente o problema: dois em cada três domicílios com renda de até um salário mínimo estão em situação de insegurança alimentar. As classes com menor rendimento, que somam até um salário mínimo, concentram 66,1% dos lares inseguros.
O levantamento do IBGE mostra ainda que a fome tem maior impacto sobre determinados grupos populacionais. Nos domicílios em situação de insegurança alimentar, as mulheres são responsáveis por 59,9% dos lares, enquanto os homens representam 40,1%. Entre os domicílios em nível moderado, essa diferença aumenta: 61,9% são chefiados por mulheres. A desigualdade racial também aparece nos dados: entre os responsáveis pelos lares com insegurança alimentar, 54,7% são pardos, 15,7% pretos e 28,5% brancos.
A pesquisa aponta ainda que o nível de escolaridade influencia o acesso à alimentação adequada. Mais da metade (51,5%) dos domicílios inseguros tem responsáveis com ensino fundamental completo ou menos, percentual que sobe para 65,7% nos casos de insegurança alimentar grave. Já entre os lares em segurança alimentar, apenas 35,1% têm responsáveis nesse nível de instrução.
Crianças e adolescentes estão entre os mais afetados pela insegurança alimentar grave. O problema atinge 3,3% da população de 0 a 4 anos e 3,8% entre 5 e 17 anos. Entre pessoas com 65 anos ou mais, o percentual cai para 2,3%.
O IBGE utiliza a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) para medir a gravidade da situação, classificando os domicílios em quatro níveis: segurança alimentar, insegurança leve, moderada e grave. A classificação leva em conta a qualidade e a quantidade dos alimentos disponíveis e o acesso regular à alimentação.
Os novos dados reforçam as informações divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), que retirou o Brasil do Mapa da Fome em 2025. Segundo o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo”, o país reduziu para menos de 2,5% a parcela da população em risco de subnutrição, resultado que reflete o desempenho médio entre 2022 e 2024.

Apesar da melhora nos indicadores, os números apontam que a fome ainda é uma realidade para milhões de brasileiros, especialmente nas regiões e grupos com menor renda e acesso a políticas públicas. O levantamento do IBGE servirá de base para o monitoramento de ações de segurança alimentar e para a formulação de políticas voltadas à redução da desigualdade no acesso à alimentação no país.
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