Chegamos em agosto, e com ele, você com certeza já ouviu “Agosto é mês do desgosto”. Há muitas teorias para essa crendice popular. Tudo surgiu na Roma antiga, no século 1, quando acreditava-se que nesse período surgiria um dragão que voando à noite cuspiria fogo. Verdade ou não, não se sabe. Mas a nossa história de hoje é exatamente o contrário. Esse agosto começou com tudo, merecendo atenção e palmas, ou curtidas em tempo de pandemia.
Isso porque no último sábado, dia 8 de agosto, aconteceu o 1° Sarau virtual da inclusão, promovido pelo departamento de inclusão do MTG, a fim de fomentar a inclusão nas entidades tradicionalistas. Atingindo todos as faixa etárias nas modalidades artísticas de canto, instrumental, declamação, dança e também no esporte de vaca parada. Foi transmitido pela página do facebook e no canal Eco da Tradição no youtube apresentado pela declamadora Laura Kuhn, do GAN Sepé Tiarayu que tem Síndrome de Down.
A luta pela efetividade da inclusão na sociedade vem de longa data, e sempre há mais a ser feito. Quem tem uma pessoa com alguma deficiência, assim como eu, que tenho um irmão com deficiência motora, sabe bem o quanto é difícil haver acessibilidade e inclusão. Mas são pequenas ações no dia-a-dia que vão modificando e melhorando a vida de pessoas com deficiência. No meio tradicionalista, que nada mais é, do que uma parte da sociedade e portanto tem a mesma responsabilidade, tenho visto ações muito positivas para essa luta.
A começar pelo CTG Darci Fagundes, onde temos em nosso quadro de prendas e peões o Vinícius Oliveira que carrega no peito o crachá de “peão amigo do CTG” e no rosto um sorriso sempre muito simpático. É um orgulho fazer parte da mesma gestão desse peão!
No ENART 2018, tivemos o desafio farroupilha da inclusão, nele o DTG Tropeiros do Ouro Negro, dançou a temática “Olhos do coração” de olhos vendados, isso porque tinham no palco, como papel principal a gaiteira Natália Guastuci, deficiente visual. Mais do que isso, os dançarinos fizeram atividades do cotidiano vendados e assim perceberam as dificuldades enfrentadas por ela.
E haja coração, pois naquele mesmo ano o Grupo de Folclore Chaleira Preta, da cidade de ijuí, levou ao palco a temática da inclusão social, apresentando em sua coreografia de entrada e saída bailarinos especiais. E quem estava na arquibancada, assim como eu, com toda a certeza viveu um momento inesquecível também. É a prova de que a dança é pra todos!
Toda ação em prol da inclusão social é bem vinda, e isso me lembrou uma publicação feita pelo professor da Ulbra Guaíba, Felipe Nunes, que é também presidente do conselho municipal dos direitos da pessoa com deficiência. O que me fez conversar com ele para saber mais daquela fotografia, em que a Priscila Victória Nunes, sua filha mais velha, que este ano completou seus 15 anos e tem paralisia cerebral, dançava em uma apresentação de danças tradicionais.
Na conversa ele me passou o contato do professor Márcio Lima, que junto com Adriano Assis são organizadores do “Projeto Mala de Garupa Cultural”. Neste ele me contou melhor como a “Pri” chegou aos tablados. Marcio conheceu a Priscila quando iniciou as atividades na escola Martha Pereira Barbosa, na época escola em que ela estudava. Em julho de 2019 iniciou a invernada da escola e no mês seguinte a montagem da coreografia com temática de brinquedos e brincadeiras folclóricas do Rio Grande do Sul, que viria a ser apresentada nas tertúlias do CTG Província de São Pedro da cidade de Tapes.
Ocorre que durante o ensaio das crianças, ele notou a Priscila passando com sua professora e percebeu o encantamento em seus olhos. Foi quando, mais que depressa, comentou para o Adriano que ela faria parte da coreografia, tendo papel principal. Quando a convidou o sim veio por meio de um grande sorriso (que é característico da Priscila). Então com o apoio dos pais dela, ocorreram diversos ensaios que fortaleceram a amizade entre todos os dançarinos. Ela não somente foi personagem principal, a “prenda flor”, mas também dançou o Chote Inglês e a dança do Maçanico, com o apoio do Marcio, que encerrou seu relato dizendo: “ela é uma prenda exemplar e a expressão dela ao dançar é invejável”.
A história é tão linda que esqueci de contar sobre a foto postada. Bom, a foto foi apenas um registro de uma das apresentações do grupo, pois já não é mais a Pri dançando com um grupo, é o grupo, como um todo. Agosto para os tradicionalistas, trouxe a tona não somente a importância da inclusão nas entidades tradicionalistas, mas a demonstração de que é possível fazer a diferença. Portanto, sejamos agentes transformadores, sejamos sujeitos ativos na causa da inclusão, são pequenas ações que podem mudar a vida de muita gente. Agosto, eu diria, um mês que dá gosto!
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