Início a presente coluna, registrando que este texto está no “forno” desde de setembro de 2021, quando então realizei uma live, promovida pela Ulbra Guaíba e em parceria com o peão do CTG Darci Fagundes e amigo Jeferson Biasibetti, onde conversamos sobre a influência do tradicionalismo na nossa formação profissional.
Assim, percebo depois de todos esses anos que ter participado do tradicionalismo desde cedo ajudou muito na minha formação profissional, costumo usar como exemplo a declamação que com certeza é fortemente responsável por hoje eu ser mestre de cerimônias das formaturas na instituição onde trabalho.
Ressalte-se ainda, que embora eu seja bacharela em Direito e o Jéferson Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, e que aparentemente nossos cursos não tenham uma ligação direta com o tradicionalismo, eles tiveram sim uma influência. Isso porque eu escolhi o Direito pela facilidade de comunicação que aprendi no CTG que, lógico, no decorrer do curso foi então melhor trabalhado e ele fez o seu trabalho de conclusão de curso um software de gestão para entidades tradicionalistas.
A verdade é que não são poucos os pontos em que participar do movimento tradicionalista proporcionou aprendizados para toda a vida, inclusive esse tema já foi debatido aqui, na coluna “O impacto do tradicionalismo na vida profissional: em que a cultura e tradição influenciaram sua vida?”, mas sendo um tema praticamente infindável vale a pena ser retomado, inclusive por diversas pessoas escolherem suas profissões a partir da vivência tradicionalista, e o mais interessante é que são cursos muito distintos, como: Comunicação, Biologia, História, Dança, Educação Física e outros. Afinal, a verdade é que estar inserido em grupos tradicionalistas permite que a gente se auto descubra, conhecendo nossas habilidades e aptidões.
Uma dessas pessoas, é a prenda Luisa, do DTG Caiboaté, a qual de antemão peço desculpas pela demora em levar ao ar nossa conversa e já agradeço imensamente pela compreensão ao saber que estava dedicada aos estudos e por ter topado contar a sua história.
A Luísa, além de uma menina encantadora e simpática, uma dançarina ímpar, uma prenda brilhante, é iluminada pela música, ela aprendeu a tocar violino no projeto PROJARI da cidade de Guaíba, e levou sua arte para dentro dos galpões, e tem ganhado destaque em suas apresentações, mas muito mais do que as conquistas tradicionalistas, o movimento apresentou a ela o caminho para sua profissão. A prenda escolheu cursar Bacharelado em Música e obteve sucesso, ingressando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
Logo, sendo inspiração e prova de que participar do tradicionalismo é muito mais que um hobby, nos contou sua história e através dela deixa um recado especial para a participação dos jovens do movimento, destacando a importância das atividades desenvolvidas dentro dos galpões que abrem caminho na vida fora fora deles, afinal “Fora dos galpões não vai deixar de ser quem és”, como diz a música “De Paulista pra Gaúcho” do grupo Folclore Nativo. Veja o depoimento de Luísa:
“Meu nome é Luísa Pires Czeczelski, tenho 18 anos, sou tradicionalista, Diretora Artística do Delta do Jacuí-Sul, violinista e futura Bacharel em Música Popular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Tenho muito orgulho em dizer que venho de uma família do interior, onde compreendi meu lugar no mundo, onde meus valores foram formados e onde sempre encontro minha verdadeira essência. Foi assim, crescendo em meio a esse cenário campestre que vivi as tradições gaúchas desde sempre. Já a música, entrou na minha vida de uma forma muito discreta, foi se aquerenciando e decidiu ficar.
Em 2011, minha Irmã de coração, Maria Eduarda Flores, me convidou para entrarmos juntas nas aulas de violino do Projeto Social das Irmãs de São José, Projari. Eu realmente não queria fazer aulas de violino, porque na época eu tinha apenas 8 anos e se fosse ter aulas de algum instrumento com certeza escolheria o violão, ou o acordeom, mas, por tamanha insistência dela, decidi que faria algumas aulas apenas para ela esquecer o assunto. As aulas eram muito divertidas, ministradas pelo mestre André Meneghello, o que me fez querer ficar. Passou algum tempo e o motivo pelo qual eu comecei meus estudos, decidiu que não queria mais fazer aulas de violino. Esse foi um momento definitivo que me fez pensar, “E agora? O que faço? Continuo ou saio?”, eu continuei, pois a música já havia se tornado uma das maiores certezas da minha vida, a minha maior expressão e, o violino, a extensão da minha alma.
A música se uniu à tradição gaúcha quando, em meados de novembro de 2017, entrou para o Movimento Tradicionalista Organizado, a fim de participar da Invernada Artística que estava sendo formada no DTG Caiboaté, em Guaíba. No primeiro dia em que fui para o ensaio, a patroa da entidade, Sra. Denizete da Luz, pediu se eu poderia tocar uma música junto com o acordeonista, Ricardo Lingener, no final de semana que se seguiria, pois teria uma cerimônia de entrega de faixas no galpão. Fiquei muito surpresa, pois não sei até hoje como ela sabia que eu tocava violino e, também, porque não fazia ideia de que o violino fazia parte da cultura gaúcha.
Esse foi o primeiro passo da minha trajetória tradicionalista e mais tarde, enquanto Prenda, estudei muito sobre a história do Rio Grande de Sul, o que me fez entender o verdadeiro espaço, desse instrumento que amo tanto, dentro das nossas tradições. Desde então, por onde estiver ele sempre esteve ao meu lado, fazendo com que eu ficasse conhecida como “A prenda do violino”.
Essa união entre a música e a cultura gaúcha, foi fundamental para escolha do meu curso acadêmico.
Antes de entrar para o Movimento Tradicionalista Gaúcho, eu já queria estudar música na faculdade, porém desejava cursar “Bacharelado em Violino”, voltando meus estudos para o repertório erudito. A vivência dentro das entidades tradicionalistas e o estudo que precisei ter enquanto 1ª Prenda Juvenil da Primeira Região Tradicionalista entre os anos de 2019 e 2021, foram fundamentais para a reconstrução do meu pensar musical, principalmente o que se refere aos preconceitos que ainda giram em torno do violino, o rotulando como um instrumento erudito em sua totalidade, de orquestra.
Sempre digo que não fui eu quem escolheu o violino e sim ele que me escolheu. Hoje após viver o tradicionalismo organizado entendo o porquê. Minha missão enquanto tradicionalista, violinista, ou simplesmente, enquanto a Luísa é defender e reintegrar o violino na cultura gaúcha.”
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