Eis que um dos “pais” do tradicionalismo nos lega desde 1954 a maravilhosa tese apresentada por ele em congresso no mesmo ano, em Santa Maria, “O Sentido e o Valor do Tradicionalismo”. Não sei se todos os tradicionalistas (principalmente os de carteirinha) conhecem o conteúdo dessa, nem se ao menos sabem da existência, mas de antemão indico que façam além da leitura, seu “manual prático de tradicionalista”, afinal aí está contido além de justificativas e essências existencialistas, o real valor de fomentar e praticar o tradicionalismo.
Barbosa disserta de forma que nos implica aprender que o tradicionalismo não nasce pronto, mas sim como uma “experiência do povo rio-grandense” que busca melhorar o funcionamento da engrenagem da sociedade. Diz ainda que seu efeito será perceptível a longo prazo. O folclore, a sociologia, literatura, esporte, recreação, entre outros são ferramentas em que se apoia o tradicionalismo buscando atingir seus fins. Não devemos confundi-los, cada um tem sua preconização para atuar na sociedade. Segundo Barbosa Lessa existem duas questões importantíssimas acerca do tradicionalismo: Atenção especial às novas gerações e Assistência ao homem do campo.
A primeira implica em semear nas crianças para que o tradicionalismo se perpetue. Pensem no compromisso que trazemos (nós os tradicionalistas) ao avaliarmos essa responsabilidade. Quanto é necessário pesquisar, aprender, empreender, abrir as gavetas da humildade para cobri-las de ensinamentos e só assim então poder disseminar. Nesse ponto faço uma intervenção importante, se somos semeadores de tradicionalismo, temos o dever de buscar a essência da tradição e repassa-la, sem inferir nem alterar, o tempo e a sociedade vindoura farão seu trabalho. O ponto de inflexão dessa curva temporal não pode jamais ser desenhada por quem tem o compromisso de repassar ensinamentos voltados ao tradicional, estará cometendo um erro crasso.
Ainda nessa pauta, como estive em países da américa latina, vislumbrei uma antagônica separação entre o tradicional da gente e o deles. Tanto Uruguai, quanto Argentina, Chile quanto Peru tem em seu currículo primário estudo de suas raízes, com conotação folclórica e cultural. Valorizam as vestimentas, as comidas e as danças típicas. Certa feita na Argentina, onde morei por dois anos, procurei um centro cultural que tinha aulas de violão (entre outros instrumentos) e perguntei se davam aulas a estrangeiros, disseram que sem problema algum. Perguntei preço e currículo, a moça solicita da recepção me deu como um soco na cara, a seguinte resposta: É totalmente gratuito, porém, os primeiros seis meses deve ser estudado os ritmos e músicas folclóricas. Fiquei abismado.
Aqui na terra gaúcha, onde somos “tradicionais” as pampas, na escola (na maioria dos casos) não faz parte do currículo escolar o estudo das nossas lendas, da nossa vestimenta, das danças, do cancioneiro, enfim geralmente estudamos o geral do Brasil e nos distanciamos do peculiar sulino. Barbosa já manifestava essa preocupação ao escrever:
“Por isso não temo afirmar que o dia mais glorioso para o movimento tradicionalista será aquele em que a classe de Professores Primários do Rio Grande do Sul - consciente do sentido profundo desse gesto, e não por simples atitude de simpatia - oferecer seu decisivo apoio a esta campanha cultural. ”
O segundo ponto abordado, Assistência ao homem do campo, afinal vem do campo toda a história de nosso povo e com essa história nossa tradição. Se representamos o homem do campo, se a palavra Gaúcho denota de termo referenciado a este, há que o valorizar com zelo e afinco. Conceituando tradicionalismo, segundo Barbosa Lessa:
“Tradicionalismo é o movimento popular que visa auxiliar o Estado na consecução do bem coletivo, através de ações que o povo pratica (mesmo que não se aperceba de tal finalidade) com o fim de reforçar o núcleo de sua cultura: graças ao que a sociedade adquire maior tranqüilidade na vida comum.”
O que preocupa é que Barbosa Lessa nos pede que o tradicionalismo seja um movimento POPULAR, que atinja as camadas populares da sociedade, porém não é tão inclusivo assim. Há que repensar como converter um CTG em um lugar de acolhimento e não de seletividade. Como seria isso possível? Com o verdadeiro ambiente fraterno e o real sentido do voluntariado, só imbuídos do mesmo ideal sem fins próprios e lucros individuais é que se promove a inclusão.
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