Em vários momentos, quando comento para algum conhecido ou amigo que faço parte de um grupo que promove encontros literários, alguns acham isso algo muito culto ou chato. Certa vez me perguntaram como eram esses encontros, se ficávamos apenas lendo em conjunto. Logo me veio na memória as aulas da escola ou da faculdade em que um colega após o outro ficava lendo um trecho de um texto que era trabalhado em aula.
Creio que o receio com a leitura comece por aí, o fato de ser julgado enquanto lê, o medo de errar, da professora chamar seu nome quando ninguém se habilita para ler... ainda hoje essas lembranças dão arrepio em muita gente.
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Contudo, precisamos pensar que ler não tem que ser algo assustador, nem é algo para os cultos, intelectuais ou "nerds". Nem é algo fora da nossa realidade, que se faz em uma biblioteca, em silêncio absoluto, abrindo grossos livros empoeirados.
Lemos e escrevemos o tempo todo, seja no computador, celular, através das redes sociais, dos apps de conversa, apps de paquera. Lemos nos supermercados, lemos receitas para cozinhar, o letreiro do ônibus que pegamos e por aí vai... Essa coluna está chegando a você através da leitura.
Então, quando organizamos uma conversa sobre literatura, além das leituras de textos e poemas que são propostos, há algo muito mais importante que é como a literatura nos atinge, nos toca e nos transforma.
A literatura está centrada mais no poder da troca entre as pessoas do que na leitura e escrita em si. Poder pensar e refletir, conversando, debatendo ou até mesmo rindo com os temas trazidos é o objetivo de um encontro literário como o Café com Letras.
Fora isso ainda há jogos, brincadeiras e gincanas em que se pode usar o tema da literatura, não apenas sendo algo maçante e monótono. A literatura pode ainda ser uma forma de conhecer pessoas, compartilhar gostos em comum e por que não, se divertir e confraternizar.
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Mais importante que ler é pensar sobre o que se lê e trocar conhecimento. A literatura é apenas o pano de fundo... ao ouvir alguém falar de um(a) autor (a) ou obra pode ser o caminho para buscarmos mais sobre. Ou não, também.
Mas em um país em que a média de analfabetismo gira em torno de 6% e que três em cada dez brasileiros são analfabetos funcionais (ou seja, sabem ler mas não sabem interpretar), é importantíssimo não encarar a literatura com certo afastamento ou receio.
Em tempos de "fake news" e da chamada "era da pós verdade", da negação da ciência, com recolhimento de livros e ataques a autores, não podemos simplesmente apenas reproduzir tudo que lemos ou ouvimos. Obviamente que ninguém precisa ser um grande leitor, nem escrever perfeitamente; mas precisamos nos informar cada vez mais, ler e trocar informações com as outras pessoas, ouvir outros pontos de vista e poder criar nossa própria consciência e senso crítico.
Precisamos aprender a discordar e a refletir principalmente sobre o nosso próprio ponto de vista, afinal um dos propósitos da literatura não é explicar tudo, mas, pelo contrário, gerar desconforto e novas dúvidas. Só assim sairemos da inércia. E para isso precisamos estar abertos.
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Talvez por isso a literatura assuste tanto: Ela tem o poder de nos desconstruir, de nos tirar da nossa rotina, da nossa bolha, de nos separar dos nossos dogmas e questionar nossas ideologias. E para muita gente isso ainda é extremamente difícil.
* Thomas Lima é psicólogo e um dos fundadores do Projeto Literário "Café com Letras" de Guaíba
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