Quando eu era um jovem estudante de arte, visitávamos com frequência museus e galerias, fomos apresentados ao fascinante universo do mundo da arte, havia instalações realmente impressionantes e outras vezes, certas obras que não significaram muito para mim. Obviamente, algumas obras requerem um certo nível intelectual para podermos nos beneficiar da experiência que oferecem, o que pode ser um pouco frustrante as vezes de finalmente não podermos nos posicionar diante da obra.
Eu me lembro daquelas frases que todo mundo já ouviu antes: “Ah, mas eu não entendo nada de arte’’ ou “A arte não me interessa’’, ou ainda, “A arte é inútil’’. Talvez eu ouse dizer que essas obras literalmente carecem de romantismo e misticidade para deixar os espectadores tão indiferentes. Então me pergunto: o que faz com que as pessoas não queiram se posicionar diante de uma obra de arte? Qual é a causa desse mal-estar popular que finalmente desvaloriza o papel da Arte? E como podemos resolver isso?
Michelangelo (1475-1564) nos responde:
“Amor, diga-me, por favor, se a beleza que vejo está diante dos meus olhos, ou apenas no fundo do meu coração; no entanto, eu olho para ela, sua aparência está sempre linda. Você que me arrebata toda a paz, responda milady, meu ardor nem sequer pede um suspiro.
Ela é linda como você a vê, mas essa beleza aumenta quando, passando pelos olhos, atinge a alma.
Promessa garantida da minha vocação, tive desde o nascimento este amor pelo Belo que, em duas artes, tanto me guia como me ilumina. Saiba disso, apenas a Beleza levanta o meu olhar, a este cerne de pensamento onde trabalho. Que os vis ignorantes tragam de volta aos sentidos esta beleza que arrebata a verdadeira inteligência do céu: os minúsculos olhares não sobem do mortal ao divino.
Meus olhos estão apaixonados por tudo o que é belo e minha alma anseia pela salvação; esse é meu duplo objetivo. Das constelações supremas desce um esplendor que atrai para si toda a esperança e a única esperança é o amor: um coração nobre não bate, um espírito nobre age apenas pela magia de um belo rosto que o convida.’’
A ausência de ideal na arte contemporânea reflete a ausência de beleza entre os costumes contemporâneos. Portanto, se a beleza é o objetivo e a arte o meio, qual seria a regra? O ideal.
Por definição, o que reúne todas as perfeições que a mente pode conceber, independentemente da realidade (Dicionário Littré). Assim ao buscarmos o ideal, buscamos a Beleza como um ponto de conexão entre o Homem, a Natureza e o Divino.
Referência texto:
« Dimmi di grazia, Amor, se gli occhi mei » de Michelangelo Buonarroti traduzido em 1894 por Sar Peladan (França).
Crédito fotográfico:
© Infinitude, OSMOSE, uma coletânea de fotografias de arte por Guillaume Sébastien Petit, 2016, www.giompetitart.com
© Alchimie, LES YEUX DE LA TERRE, uma coletânea de fotografias de arte por Guillaume Sébastien Petit, 2016, www.giompetitart.com
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