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Terça-feira, 15 de Outubro de 2024

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Em tempos de pandemia, a Camada de Ozônio se recupera a olhos vistos

A restauração ainda não é suficiente para que os padrões climáticos voltem à normalidade

Aline Stolz - Papo Ambiental
Por Aline Stolz - Papo Ambiental
Em tempos de pandemia, a Camada de Ozônio se recupera a olhos vistos
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A importância da Camada de Ozônio para a existência humana é assunto muito discutido desde as aulas de ciências no Ensino Fundamental. Sem sua a proteção, a película de gases que envolve a Terra a 18 km de altura, a vida no Planeta não seria possível. Se essa barreira invisível fosse degradada totalmente, abrindo passagem para que raios ultravioletas ultrapassassem a atmosfera, um simples banho de Sol de cinco minutos já seria suficiente para lesar a pele, ameaçaria animais, tornaria o solo infértil e extinguiria variedades inteiras de plantas e microorganismos, por exemplo.

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O notável buraco, que a cada dia diminuía a proteção de ozônio do planeta, se tornou uma preocupação ambiental tão grave quanto o aumento da temperatura dos oceanos. Em 1974, ocorreu a descoberta de que os gases CFC’s (clorofluorcarbonetos) reagiam seus átomos de cloro com o ozônio (O3), quando eliminados para o ar com o borrifo de aerossóis ou pelo funcionamento de ares-condicionados e geladeiras. 

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Em 1987, foi assinado por 24 países, o Acordo de Montreal, que estabeleceu diretrizes para frear a fabricação e uso de agentes associados com a destruição da camada de ozônio e a primeira grande medida para a limitação da aplicação dos CFC’s, fazendo com que a indústria de eletrodomésticos passasse a pesquisar novas tecnologias limpas.

Já no início dos anos 2000, se registrou uma queda significativa nas concentrações desses materiais na atmosfera, assim como o início da recuperação da camada de ozônio em escala global e da redução do colossal “buraco” que existia sobre a Antártida.  Em 2010, o uso de químicos do tipo acabou completamente banido – com exceção na China.

Para um cenário muito pessimista, Cientistas acreditam que se o Acordo de Montreal não tivesse sido aceito e efetivado no mundo, a degradação na película protetora poderia ser de cerca de 75% até 2020. Com projeções mais otimistas, um relatório elaborado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2016 afirmou que a camada de ozônio estava se recuperando e seus dados estimavam que poderia recuperar-se por completo até 2060, sendo que em certas áreas, como as polares, era possível que a recuperação acontecesse até antes, em cerca de 2030.

Entretanto, ainda aponta o relatório que o aumento da emissão dos gases de Efeito Estufa pode alterar a circulação de massas de ar atmosféricas e causar uma distribuição desigual do ozônio. Com o aquecimento global, é possível que haja menor concentração de ozônio em regiões tropicais, o que inclui o Brasil, no Ártico e nas áreas de latitudes médias – onde a camada de ozônio já é naturalmente menos densa.

 

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Ilustração mostra o buraco da camada de ozônio em recuperação. Fonte:  Good News Network / Reprodução 

 

Na mesma linha de pesquisa, a publicação de 25 de março de 2020 na Edição Nº 579 da Revista Nature trouxe um levantamento que apontou que a camada de ozônio está se recuperando ainda mais, principalmente está regenerando a circulação de ventos – os chamados ventos de jato - por todo o planeta, especialmente no Hemisfério Sul e esta restauração parece estar associada às medidas acordadas e postas em ação a partir da assinatura do Protocolo de Montreal, em 1987.

O jato sul é um vento poderoso que molda os padrões climáticos e as correntes oceânicas no Hemisfério Sul, principalmente no verão. Até 2000, ele estava mudando seu curso usual e se movendo mais em direção à Antártica, afetando as tempestades e chuvas na América do Sul, leste da África e Austrália, efeito este causado pela redução da camada de ozônio.

O estudo apontou que o impacto na circulação dos ventos registrado em decorrência das alterações na atmosfera provocadas pelo uso de substâncias envolvidas na rarefação da camada de ozônio está a se normalizar. Mais precisamente, se notou uma pausa na migração de correntes de ar em direção aos polos terrestres e inclusive uma reversão em algumas das anomalias nos padrões de ventos que vinham sedo registradas até então.

Para melhor entendimento, as correntes de jato circulam a grandes altitudes e altas velocidades entre as camadas de troposfera e estratosfera, fluindo em direção aos polos. Por conta da rarefação da camada de ozônio, essas correntes de jato haviam começado a circular mais ao sul do que o normal no nosso hemisfério, afetando os padrões de chuva – e possivelmente até os de correntes oceânicas, interferindo, por sua vez, no clima. Assim, o estudo mostrou que, há pouco mais de 1 década depois de o Protocolo de Montreal entrar em vigor, cerca de 1997, o deslocamento das correntes de jato parou, sofreu reversão em alguns pontos e mostrou que o esforço conjunto e o compromisso global de parar com a fabricação e emissão de substâncias prejudiciais para a camada de ozônio rendeu excelentes frutos.

É importante mencionar que as emissões de gases de efeito estufa continuam sendo um sério problema, já que foi detectado um aumento na emissão de outros materiais associados com a rarefação da camada de ozônio, especialmente na China, algo que pode afetar a reversão das correntes aos padrões normais e, na pior das hipóteses, voltar a empurrá-las em direção aos polos.

Conforme a principal autora do estudo, Dra Antara Banerjee, que trabalha na Divisão de Ciências Químicas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica e na Universidade de Boulder, Colorado, EUA, as imagens de satélite de setembro/2019 revelaram que o pico anual do buraco na camada de ozônio havia encolhido para 16,4 milhões de quilômetros quadrados, a menor extensão desde 1982 e assim, na Patagônia (sul do Chile e Argentina), deve haver mais chuvas e menos luz ultravioleta cancerígena. As descobertas são mais preocupantes para a América do Sul Central (Uruguai, Paraguai, sul do Brasil e norte da Argentina), onde o esgotamento do ozônio anteriormente causava mais chuvas e bandas mais amplas de produção agrícola. O mesmo pode acontecer com a África Oriental e outras áreas desérticas nas latitudes médias. 

Estudos anteriores sugerem que a reversão também pode ser boa para a Austrália, que sofreu mais secas porque o movimento dos ventos de jato empurrou tempestades de chuva para longe de sua costa durante o inverno. 

Acredita-se que a restauração do ozônio ainda não é suficiente para que os padrões climáticos do Hemisfério Sul voltem à normalidade, porque outras emissões industriais — como dióxido de carbono e metano — continuam a exercer uma força perturbadora na direção oposta. O estudo afirma que há uma disputa entre a recuperação do ozônio e o aumento de dióxido de carbono, mas num futuro próximo, o fator de ozônio poderá dominar e a corrente de jato poderá voltar à Linha do Equador. Mas quando a recuperação estiver concluída, o excesso de CO2 poderá empurrá-lo para o sul novamente. 

Se a recuperação da camada de ozônio pela diminuição de CFC’s e emissões industriais de dióxido de carbono e metano afetará a perda de gelo do mar antártico continua sendo uma grande questão sem resposta. Estudos anteriores sugeriram que o buraco no ozônio tinha um efeito de chaminé que sugava parte do calor da atmosfera, o que significava que o polo sul esquentava mais lentamente que o norte.

A lição que fica, em tempos de pandemia, é que as mudanças de atitudes, de atividades mais saudáveis, de emissões atmosféricas, de metodologias de comércio, especialmente E-commerce são necessárias, com benefícios ao Planeta, sem necessidade de plano B e pela preservação das espécies vivas. Repense suas posturas! 

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