Eu tinha em torno de sete anos quando vi uma declamação pela primeira vez. Aquele momento foi marcante: ver um poema ganhar vida na voz do meu avô Carlos Costa, que apenas brincava com as palavras, decoradas desde tenra idade, sobre uma pombinha rola. Não me recordo das rimas, mas lembro do quanto aquilo me encantou.
A declamação, nada mais é do que a arte de falar o poema por meio da impostação da voz, dicção e pronúncia; e gestos como expressão corporal e facial. Tem o intuito de demonstrar os sentimentos e mensagens do texto, para sensibilizar e encantar o recebedor da mensagem ou público. Mas para a língua portuguesa, por exemplo, é utilizada para fins de aprendizado, como um exercício de oratória.
Mas esta arte não é exclusividade gauchesca. Pressupõe-se que tenha surgido antes de cristo, como se pode perceber pela escrita, que ajuda na memorização, do conhecido poema “Odisseia” de Homero da Grécia Antiga. No Rio Grande do Sul, o poema típico conta a história do nosso povo, suas guerras e belezas, onde os versos e a declamação foram ganhando espaço aos poucos, conforme apresentado no livro “A arte de declamar”. De autoria de José Luiz Rodrigues dos Santos, destaca-se que “os primeiros versos folclóricos foram publicados em 1880 na Gazeta de Porto Alegre, por Carlos Von Koseritz”.
Com o crescimento da declamação da poesia gaúcha cresceram também os concursos, que foram incluídos nos rodeios pelo estado e diversos foram os festivais criados exclusivamente para ela, tais como Esteio da Poesia Gaúcha, Sesmaria da Poesia Gaúcha e mais recentemente surge o Festival de Declamação Darci Fagundes, que acontece no mês de dezembro na cidade de Guaíba.
O Festival teve sua primeira edição no ano passado, idealizado pelos tradicionalistas Lucas Madruga, Rodrigo Rosa, Felipe Deczuta e Diego Peres e ocorre no CTG de mesmo nome. Devido ao sucesso, no último fim de semana teve a sua 2° edição de forma online por meio do Youtube, com apoio da patronagem do CTG e da secretária de cultura de Guaíba.
Logicamente, não podia deixar de conversar com o Madruga sobre o evento. Este destacou que a premiação do festival foi até 5° lugar com certificado, sendo que até 3° lugar houve uma premiação de valor em dinheiro simbólico, frisou ainda a importância do prêmio coringa que neste ano foi para o Tio Lázaro.
“É uma mistura de sentimento muito intensa. Como organizador do Festival, fico bem agitado pois quero que tudo ocorra como planejado. Já como Declamador fico muito contente em ver os pequenos declamando, pequenos mas com verdade na sua arte, e ao mesmo tempo Declamadores já consagrados valorizando nosso festival”, descreve ele, quando questionado sobre seus sentimentos em relação ao projeto.
Destaca-se que o festival não ocorre em dezembro por acaso. Acontece que o Felipe, com quem também conversei, foi o idealizador do Projeto de Lei que integrou o Dia do Declamador Gaúcho no calendário oficial do estado, sendo então definido o dia 15 de Dezembro por ser a data de nascimento de Darcy Fagundes da Silva - folclorista, declamador, radialista, apresentador do popular “Rodeio Coringa” e apoiador da criação de festivais que fomentam o tradicionalismo.
“Em primeiro lugar acredito que a importância do dia do declamador Gaúcho é o de marcar o nascimento de Darcy Fagundes, mantendo vivo o seu legado para as futuras gerações, pois ninguém morre enquanto estiver no coração dos que vivem. Também é uma homenagem a tantos outros declamadores, desde os tempos mais longínquos, na volta de um velho fogo de chão, até os dias de hoje.
Assim, para fortalecer essa arte tão linda, que fala da nossa gente, das nossas coisas, da nossa terra, que toca nossa alma. Que esse dia sirva de incentivo para que a declamação siga firme rumo às gerações do futuro, independente para onde vamos sempre lembramos de onde viemos. Afinal o que seria da vida sem a poesia.” diz ele.
Portanto, fica notório que esse grande festival veio para ficar e que muitas histórias ainda serão vividas e contadas no palco do CTG Darci Fagundes. Quem sabe, logo retomo os versos fora do papel. Por ora, sigo escrevendo poesias acanhadamente, talvez um dia elas ganhem vida no palco dos versos de Guaíba. Adelante meus amigos, fazendo do mundo, poesia.
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