Cada pessoa que escreve tem seus motivos para escrever. Eu escrevo porque preciso da escrita para viver. Assim como respirar, comer, beber água. Aliás, bem isto: beber água! Não escrever me dá tanta sede, mas tanta sede, que chego a sentir a garganta ressecar, o coração ficar agoniado. Escrevendo, transpiro.
Preciso escrever para continuar viva. Largando de mim emoções guardadas ou descrevendo emoções que nunca vivi. Sim, isto também acontece e com muito mais frequência do que poderia ser dito. A pessoa que escreve tem aquela licença poética, aquele “quê” sentimental que lhe permite sair por aí pela vida “roubando identidades” emocionais, se apoderando das emoções alheias para transfazê-las, levando ao papel e depois ao leitor o que talvez quem estivesse verdadeiramente sentindo jamais pudesse expressar. São os arroubos da escrita!
Reservo-me o direito de não contar tais pecados para não cair na realidade que assolaria meu íntimo, daria aos meus textos faces obscuras e retiraria deles o sentido primeiro que é fazer com que aquele que os lê possa interpretar da sua maneira,sem que seja eu que tudo explico,tudo diga,tudo entregue.
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Pratico a arte de existir plenamente naquilo que mais amo: escrever. E exercito a escrita experimentando, como quando se prepara um bom prato. Pitadas de tudo: sal, açúcar, pimenta… Eu tempero meus textos com o que me dá vontade e deixo que saiam de mim sem um sabor pré-concebido. Aventuras.
Sonhos, pesadelos, o cotidiano, um barulho sem nexo, a urbanidade das ruas, um olhar qualquer, uma lembrança remota, um “se” que se insinua, uma dor que não parte, uma ferida entreaberta, saudades, medos, loucuras, solidão de um dia ou de uma vida… Uma criança, um jovem, um velho… O céu azul, cinza, nublado… O sol, as tantas estrelas, a lua, a imensidão do infinito… O mar, os rios, os lagos e lagoas… as lagoas que a chuva deixou nas calçadas e nas ruas… A chuva que cai, que deveria cair, que nunca caiu… A lágrima que cai, que deveria cair, que nunca caiu… As palavras negadas, caladas, gritadas, vomitadas…
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Tudo na vida tem o poder de ser escrito. E todo escrito tem a opção de ser entregue para leitura. Ou não. Reserva-se, esconde-se, engaveta-se, com a única intenção de preservar o que já foi exposto quando escrito. Mas o que fica guardado fica também imune aos julgamentos e aos elogios. Alguns preferem assim.
Eu, jogo ao mar meus escritos. Atiro neste longo mar de comunicação que é a internet. Ou registro intimamente em livro. Em todos os casos, ordem ou caos, pouco permanece em mim. Graças a isto, continuo viva!
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