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Segunda-feira, 14 de Outubro de 2024

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No fim de ano precisamos, acima de tudo, lembrar de carregar o peito de gratidão

O presente de Natal é distribuir afeto e carinho ao mundo

Mário Terres - Tradicionalismo
Por Mário Terres -...
No fim de ano precisamos, acima de tudo, lembrar de carregar o peito de gratidão
Maris Strege
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Sempre nos tornamos mais sentimentais e pensativos nessa época de festas. O Natal nos toca fundo sobre coisas que já passamos e no porvir que imaginamos ou sonhamos. A troca de ano realça nossos sonhos e trata de nos fazer viajar mais profundamente nas emoções. Sou humano e sentimental, me incluo nessa lista dos que se abatem emotivamente nessa época.

Entre tantas emoções que me batem à porta do peito para arrebentar a tramela, está a lembrança do Terno de Reis do meu avô. Seu Osvaldo Barulho, junto com minha avó, Dona Judith (que Deus os tenha) e mais um bando de amigos saiam em caravana pelo interior do município de Guaíba para cantar seus cânticos e congregar de famílias afetuosamente a chegada do Jesus menino.

Papai Noel é invenção de moda estrangeira. Pensem com cuidado e atenção, nossos natais são em pleno verão, calor de 30 à 40 graus, e o velhinho vem com uma roupa comprida, barba grande e cabelo branco com uma touca (roupa de inverno). E ainda com um saco de presente, figurativamente num trenó (veículo de neve) puxado por renas.

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Ora renas, nem existe esse animal no Brasil, são geralmente encontrados na Europa, Ásia e América do Norte. Mas como bons brasileiros, adoramos o estrangeirismo. Fora o movimento comercial em relação a data, nos atracamos tipo bicho a comprar presentes e as vezes esquecemos que o afeto e o carinho é o bem mais valioso que qualquer bem material.

Na nossa tradição, os homens campesinos (que são a origem de tudo o que chamamos de Rio Grande do Sul) reuniam-se com sua família para agradecer a colheita, o trato dos animais e tudo o que a terra e o campo lhes proporcionavam. Faziam churrasco, colocavam o fruto da terra à mesa e oravam ou agradeciam conforme seu credo, mas sempre prezando para que os filhos e sua prole entendesse o valor do suor, da confraternização e a força que a união da família lhes gerava. Inclusive, como curiosidade, as famílias eram grandes para disponibilizar mão de obra. Isso mesmo, se engravidavam as matriarcas para que os filhos labutassem em sustento a família. Afinal naquelas árduas épocas além da mão de obra ser escassa, era difícil confiar o convívio a qualquer estranho na lida da terra e do campo, pois os peões moravam nas fazendas, facilitando a gestão dessa mão de obra.

Baseado nas informações, gostaria de relembrar os leitores que o natal é muito mais que distribuir presentes. Precisamos distribuir afeto, amor, carinho, amizade, fraternidade e, acima de tudo, lembrar de carregar o peito de gratidão. As vezes a atitude de dar presentes é tão fria que não entregamos nenhum valor a não ser o monetário. Parece um jogo qualquer onde o filho tem que cumprir uma missão para ganhar um prêmio, a esposa ou esposo tem que ser legal para ganhar seu brinde. As vezes passamos o ano brigando que nem vira latas e no natal nos damos presentes e está tudo certo. Isso que passamos de referência e valores aos nossos filhos, aos nossos netos?

Precisamos valorizar as coisas simples, a atitude carinhosa do abraço, o respeito dos netos aos avós. A importância que eles tem na influência divina de educar. Precisamos ensinar valores, não o material e financeiro, mas o afetivo. Quanto vale um abraço verdadeiro naquele amigo ou parente que nos faz feliz ou que merece todo nosso respeito? Quanto vale um sorriso e um bom dia pra uma pessoa que convivemos e esquecemos de dedicar um cumprimento matinal para tornar o dia dela mais agradável? Vocês já perguntaram pros filhos que tipo de pessoa ele pretende ser?

Geralmente pensamos no que ele vai ser, como profissão, em termos de ser bem sucedido financeiramente e ter. Infelizmente acostumamos a pensar sempre no TER e esquecemos que o mais importante é o SER. Se formos pessoas de valor a sociedade ganha com isso, em respeito, seriedade, trato amável, gerando uma corrente de boas energias e tudo seria mais completo, pois os sistemas que dependem das nossas escolhas funcionariam como espelho, refletindo tudo o que ensinou-se em sentido a ser.

Bueno. Me alonguei no tema e esqueci de relembrar realmente o que a tradição portuguesa nos deixou de herança: os ternos de reis. Pra mim a herança do avô e da avó, com sua gaitinha verde, o peito arranhado de tanto cantar o reis grunhindo igual gato no cio, viajando na caçamba basculante de um caminhão velho e mal cuidado, para chegar à noitinha, nas casas do interior (Barão, Petim, Terra Dura, Serrinha, Doradilho) e anunciar com sua música:

“Agora mesmo cheguemo, na beira do seu terrero
Para tocá e cantá, licença peço premero
Porta aberta luz acesa é sinal de alegria
Entra eu entra meu terno, entra toda a companhia...”

E ía noite adentro, música, prosa, versos, um causo pra dar risada e o nascimento do Deus menino era festejada sem presentes caros, nem roupas de gala, mas com a simplicidade do campesino, que arregaça as mangas e entrega seu suor a terra em busca do seu sustento.

Que abramos as portas do coração para os tiradores de reses entrar e nos tocar com a luz do seu cântico, emanando em nossas almas simplicidade, humildade, alegria e muita afetividade. Feliz Natal à todos que entregam seu tempo para ler a coluna desse que vos escreve.

 

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