Carnaval e tradicionalismo, vocês devem estar lendo o título e falando internamente: “Esse cara é maluco”. Talvez eu seja mesmo, afinal já ouvi que o mundo é dos loucos, quero ser louco pra ter o mundo ao meu lado. Não acho que não sou, Dona Elisa que responda.
Tudo na vida sempre depende do contexto, aprendi que a visão muda sempre, dependendo do expectador. Aprendi também a ouvir e depois formular pensamentos, buscando sentido e até fundamentação, afinal hoje em dia tá cheio de guru sem conteúdo nas mídias. Fui buscar algumas definições importantes para embasar minha crônica, meu relato, como queiram nominar os entendidos.
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Nos livros do Paixão Cortes, onde busquei luz para a escrita (Folclore Musical da Pampa, Folclore Gaúcho – Festas, Bailes, Músicas e Religiosidade Rural) vi conotação ligada ao contexto explicativo do tradicionalismo, não tanto o folk popular. Façam a leitura demoradamente dos conceitos e depois prossigam.
Referente a tradição diz-se do hábito ratificado pela prática histórica, passado que indica respeito, ato contínuo validado por uma transmissão cultural. A palavra deriva do latim "traditio" que significa transmissão, algo que é transmitido (ou transferido) do passado para o presente. Podemos, assim, retratar a tradição como um conjunto de crenças de um povo que são seguidas e partilhadas sucessivamente durante várias gerações.
Acompanhe, não fuja porque ainda tem mais. Sobre folclore: Por folclore entendemos as manifestações da cultura popular que caracterizam a identidade social de um povo. O folclore pode ser manifestado tanto de forma coletiva quanto individual e reproduz os costumes e tradições de um povo transmitidos de geração para geração. Sendo assim, todos os elementos que são parte da cultura popular e que estão enraizados na tradição desse povo são parte do folclore.
A palavra folclore tem origem no inglês e é oriunda do termo folklore. Esse termo, por sua vez, foi originário da expressão folk-lore, criada por um escritor chamado William John Thoms, em 1846. Em 22 de agosto de 1846, uma carta de Thoms enviada à revista The Atheneum foi publicada. O termo baseava-se em duas palavras: Folk, que significa povo; Lore, que significa conhecimento, saber. Assim, a junção das duas palavras, conforme o próprio Thoms, significa saber tradicional de um povo.
A palavra proposta de Thoms não foi adotada logo de imediato e só se popularizou quando surgiu a Sociedade do Folclore em Londres, no final do século XIX. Se tradição tem a ver com o respeito de algo passado validado por uma transmissão cultural e o folclore é a sabedoria popular passado de geração a geração, muda o espaço-tempo, mas a caracterização de legado é sinônimo nas duas definições.
O que chamamos tradição está ligado a nossa história, as lutas, as mangas arregaçadas e calejadas do machado, da inchada, os pés sujos dos potreiros. Que em algum momento buscavam na música, na dança e nas rimas uma forma de agradecer, de espraiar a mente para seguir laborando com força e determinação para construir nosso estado.
E o carnaval? Que aliás tem recebido preconceito por parte do povo. O carnaval é mais antigo que pensava. Existem teorias de que teve seu início na Babilônia, onde um escravo era fantasiado de rei e humilhado no templo do deus Marduk, mostrando sua inferioridade ao deus. Outros creem que iniciou na Grécia por volta de 600 a.c. em comemoração ao início da primavera. Há ainda a teoria que começou em Roma, em Saturnália ocasião na qual as pessoas se mascaravam e passavam dias a brincar, comer e beber.
Com a ascensão do cristianismo, as festas pagãs ganharam novos significados. Assim, o Carnaval tornou-se a oportunidade dos fiéis despedirem-se de se alimentarem de carne. Inclusive, a palavra carnaval vem do latim carnis levale que significa “retirar a carne”.
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No Brasil, o Carnaval surgiu com o entrudo trazido pelos portugueses. Este consistia numa brincadeira quando as pessoas atiravam água, farinha, ovos e tinta uma nas outras. Por sua parte, os africanos escravizados se divertiam nestes dias ao som de batuques e ritmos trazidos da África e que se mesclariam com os gêneros musicais portugueses. Esta mistura seria a origem da marchinha de carnaval e do samba, entre muitos outros ritmos musicais. No começo do século XX, com o objetivo de civilizar a festa, a prática de lançar farinha e água foi proibida. Por isso, as pessoas começaram a importar dos carnavais de Paris e Nice o costume de jogar confetes, serpentinas e buquês de flores.
Independente da origem, o carnaval tornou-se grande festa popular, manifestando as crendices, as folias, as demandas do povo e como tudo que envolve o povo. Outros interesses podem aflorar e transformar o simples folclore, que buscou na tradição um conceito histórico para ganhar vida, virar um comércio gigantesco.
O tradicionalismo é o resgate da vida campesina, das origens do nosso Rio Grande amado, carregado de heranças dos portugueses, italianos, alemães, outros tantos que formaram a sociedade gaúcha. Carnaval e Tradicionalismo se entrelaçam em conceitos muito similares, o de reverenciar algo que foi legado, tem conceituação histórica.
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Quanto ao processo evolutivo, o tradicionalismo será que não passou ou passa pelo mesmo processo? Há que aproveitar a concepção e evolução do carnaval e se perguntar várias vezes qual caminho o tradicionalismo deve seguir? O de representar a simplicidade do povo, ou projetar isso ao futuro e transformar a mais pura e simples tradição em mega produção, perdendo a essência mas ganhando o glamour e notoriedade mundial. Afinal, as manifestações do carnaval e do tradicionalismo tem muito mais em comum que imaginávamos, certo?
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