A pandemia pôs-nos a dizer coisas que nunca na vida sonharíamos pronunciar. Desde o início, me perguntei por que é que não se disse antes “isolamento pessoal” (entre pessoas) em vez de “isolamento social”. É que “social” engana, quer aplicado ao convívio interpessoal quer em relação às máscaras. Como se “máscaras sociais” fossem para estar em sociedade, de forma recreativa.
Não vou propriamente socializar como gostaria. É que os novos termos são de linguagem médica. Duas pessoas que vivam na mesma casa estão, sanitariamente, num contexto social? Pelos vistos sim, mas não nos passa pela cabeça que andem de máscaras dentro das próprias residências. Porém, agora, ao que temos nos manter habituados, sabe-se lá até quando, ao uso e abuso do “novo normal”, vulgo, “agora é assim”.
Já sabemos que vamos ter de viver com o vírus até que surja uma vacina tão anunciada para breve na teoria. Ou, pelo menos, é isso que esperamos. Porque no “novo normal” a verdade é um erro no dia seguinte. Talvez seja exagero, mas tem sido um bocado assim.
Nunca nas nossas vidas andamos tão confusos como agora. É demasiada informação, demasiadas “verdades” e ainda mais “inverdades”, vulgo, “mentiras”. O ser humano é uma espécie surpreendente, quer para o bem, quer para o mal. Não é nenhuma novidade, eu sei. Mas temos visto, de forma mais acentuada, a sua capacidade de sobrevivência. Não é fácil andarmos todos a passar a um “novo” que muda quase todas as semanas, para não dizer “da noite para o dia”.
Passamos da zona de conforto à zona de desconforto, ou ao “novo normal”. Quem me dera a mim que esta “anormalidade” parasse ou abrandasse um bocadinho. Viver tanto tempo na incerteza – e, convém dizer, que os mais frágeis econômica e socialmente sentem isto de forma muito mais dura – é esgotante. Já sabemos que vamos ter de nos confrontar, mais uma vez, com uma taxa de desemprego assustadora, que muitos negócios vão, pura e simplesmente, deixar de existir, e que muitas famílias não vão aguentar-se.
Tenho saudades do “antigo normal”. Apesar de tudo, vivíamos numa incerteza mais domável. E o pior é que sabemos que será em todo o mundo. Estamos todos a precisar de férias. De preferência, do próprio mundo... E sem máscaras.
Texto adaptado da revista Lux, de Portugal. Por Filipa Guimarães
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