TVGO | Guaíba Online

Terça-feira, 12 de Novembro de 2024

Geral

Técnicas Compensatórias de drenagem de águas pluviais para construção de cidades resilientes e sua aceitação social

A busca por cidades resilientes é uma alternativa para minimizar ou solucionar problemas de drenagem das águas pluviais

Aline Stolz - Papo Ambiental
Por Aline Stolz - Papo Ambiental
Técnicas Compensatórias de drenagem de águas pluviais para construção de cidades resilientes e sua aceitação social
IMPRIMIR
Espaço para a comunicação de erros nesta postagem
Máximo 600 caracteres.

Em decorrência do processo de urbanização das últimas décadas, os impactos ambientais tem sido cada vez mais visíveis, principalmente nas abordagens do ambiente natural dentro dos espaços construídos. Neste contexto o planejamento e a infraestrutura urbana, mais especificamente o serviço de saneamento básico, não acompanham este intenso e rápido processo de urbanização, afetando diretamente a paisagem urbana e gerando graves alterações nos ciclos naturais, principalmente no hidrológico. São exemplos destes danos a diminuição do armazenamento de água no solo e sua qualidade, o aumento do escoamento superficial, de enchentes e inundações, estas cada vez mais frequentes que ocasionam prejuízos econômicos e até mesmo a perda de vidas humanas.

A busca por cidades resilientes é uma alternativa para minimizar ou solucionar estes problemas relacionados à drenagem das águas pluviais. Nestas cidades os impactos seriam amenizados por conta da existência de serviços e infraestrutura organizados e que obedecem a padrões de segurança e normas técnicas do projeto, da construção até sua operação. Soma-se a isto o fato de se preocuparem com uma urbanização mais sustentável, onde as autoridades locais e a população desenvolvem, em conjunto, processos de informação, com destaque para o empoderamento e mobilização dos cidadãos para a participação, decisão e planejamento de sua cidade. 

Considerando a gestão dos recursos hídricos e dos sistemas de drenagem, uma parte importante no desenvolvimento de cidades resilientes, ressalta-se que ainda é predominante a implantação do sistema clássico de drenagem, mas este, a cada temporada de chuva, causa estragos irreversíveis nas cidades porque ainda são baseados no preceito higienista, que priorizam a rápida evacuação da água através de condutos, preferencialmente subterrâneos (como a canalização dos corpos d´água), afastando a presença da água da paisagem urbana. Contudo este sistema vem se afirmando como insuficiente e até mesmo ineficaz, pois os problemas de inundações não são resolvidos e sim transferidos para as áreas a jusante, causando danos irreversíveis às margens de córregos e áreas de APP, entre outras. 

Leia Também:

Em resposta a este sistema clássico, surgiram tecnologias de drenagem alternativas e o uso das chamadas “Best Management Practices (BMPs)” ou técnicas compensatórias de manejo de águas pluviais (TCs), já no final da década de 70. As TCs, possuem o conceito de resolver o problema da drenagem na fonte, buscando compensar os efeitos da urbanização através da retenção ou armazenamento de água, pela infiltração e melhoria da qualidade infiltrada, podendo assumir múltiplas formas, diferentes escalas e podem ser classificas de duas maneiras: 1. Não estruturais (aspectos normativos e preventivos) e 2.Estruturais (obras que favorecem o retardamento dos escoamentos, como bacias de detenção, poços de infiltração, valas, trincheiras, pavimento permeável, entre outros). 

Somado-se ao conceito das TCs, surgiu na década de 80 o “Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto (Low Impact Development - LID)”, uma nova metodologia para planejar e projetar a paisagem urbana para compensar os processos naturais alterados em função da urbanização, tendo como base a gestão das águas pluviais e que vai além da implantação das técnicas compensatórias, pois envolvem o planejamento multidisciplinar integrado a práticas de tratamento e controle das águas pluviais em pequena escala, procurando imitar o comportamento hidrológico natural. Apesar de muitas cidades em vários países utilizarem o LID, no Brasil ainda é pouco aplicado e sua implantação se dá em casos isolados para o uso em pesquisas, como exemplo a simulação em uma microbacia experimental na cidade de São Carlos –SP, atingindo a hidrologia natural do local.

Por outro lado, a implantação de TCs é crescente e tem se confirmado por meio de imposições legais, como exigência de bacias de retenção e/ou detenção em novos loteamentos e implantação de cisternas para uso das águas pluviais ou poços de infiltração em cada novo lote a partir de determinada metragem quadrada ou taxa de ocupação do lote.

Pensar em formas de promover uma apropriação das técnicas TC’s e LID por parte da comunidade auxilia a relação da mesma com os dispositivos de drenagem e para que ela esteja aberta e consciente a estas inovações é necessário expô-las à informação, investindo em meios de divulgação, como audiências públicas, programas de educação ambiental, propagandas, atividades práticas em escolas e universidades, reuniões de associações de moradores, entre outros. Assim, com a divulgação e o debate coletivo é possível despertar na comunidade um sentido de pertencimento, corroborando com compromisso de implantação, manutenção e preservação das práticas de drenagem. Estas ações fazem parte de uma urbanização sustentável, premissa para cidades resilientes onde a população, ante as intercorrências, tem a oportunidade de conquistar diversos benefícios, incluindo a preservação e restauração de suas estruturas e funções essenciais.

Destaca-se que o aprendizado social com relação às práticas sustentáveis tem um tempo longo, ou seja, através de discussões e reflexões as ideias que devem ir sendo aperfeiçoadas ao longo das metodologias de divulgação e debate, tornando as propostas viáveis para a comunidade e para a cidade. Isso sugere que permitir tempo suficiente para que os membros da comunidade se envolvam, entendam e deliberem é um aspecto importante nos processos de planejamento participativo, de forma que os resultados nas cidades aplicadas confirmam que a aprendizagem social é uma parte importante do processo para muitos participantes da comunidade mobilizada. 

Em linhas gerais, todos os casos apresentados no Quadro 1 buscam a participação e aceitação da comunidade na abordagem de manejo sustentável das águas pluviais. Com exceção do caso de Guarulhos, que tratava especificamente de TCs já implantadas, os demais casos envolviam o tema do Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto –LID.

 

Veiculação de conteúdo: Guaíba Online não responde ou emite juízo de valor sobre a opinião de seus colunistas. Os colaboradores são autores independentes convidados pelo portal. As visões de colunistas podem não refletir necessariamente as mesmas da plataforma Guaíba Online.

Comentários:
Aline Stolz - Papo Ambiental

Publicado por:

Aline Stolz - Papo Ambiental

Saiba Mais