Lembro que quando eu era criança e usava um vestido de prenda, me sentia como uma princesa dos contos de fadas. Engraçado que hoje em dia, já adulta, não rara as vezes que uma criança, ao me ver de Prenda, confunde com uma princesa. É a beleza da inocência e do imaginário infantil, encantando ainda mais o nosso tradicionalismo.
Na verdade o vestido é peça tão importante no tradicionalismo, que é através dele, assim como qualquer outra roupa do dia-a-dia, que nós, mulheres, nos expressamos. A pilcha feminina, ou indumentária da mulher dentro dos costumes gaúchos, representa muito do que era utilizado pelas mulheres do sul antigamente, mas também evoluiu ao longo dos anos, por conta da força tecnológica e do mundo globalizado.
Assim, a fim de manter as características principais do que representamos, foram criados diversas regras, especialmente pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho, onde a ideia não é limitar o processo de criação, mas sim garantir a identidade da prenda.
Logo, podemos utilizar saias e blusas, saia e casaquinho, ou vestido, desde que esteja de acordo com a categoria em que a prenda faça parte, sendo elas: Mirim, juvenil, adulta e chinoca. Devendo ainda o traje femino condizer com o masculino, quando falamos em grupos de danças e pares, havendo todo um contexto histórico para garantir o conjunto.
Também fazem parte da pilcha feminina a saia de armação ou anáguas, bombachinha, meias e sapatilhas ou botas, que também tem sofrido muita influência da moda no tradicionalismo. Mas hoje especialmente trataremos dos vestidos, onde em sua criação podem ter distintos detalhes, como laços, babado, botões, bordados, pinturas, claro, dentro das normas de cada estilo e modalidade, sempre buscando a graciosidade da prenda e direcionado a época e história que se busca retratar.
Considerando todos os regramentos e as possibilidades de criação, não poucas pessoas se dedicam a desenhar modelos de vestidos. Dentre estes, convidei o Jeferson Biasibetti, que além de meu amigo é fundador e estilista da JB vestidos, para conversar um pouco sobre o tema.
“O mais complicado é entender o que cada prenda quer e botar tudo isso no papel, e isso engloba modelo, cor, estilo. Cada prenda é única e merece algo único, da forma que deseja, seja a reforma de um vestido antigo ou na criação de algo do zero. Bem como cada categoria tem suas peculiaridades, sendo assim, nem sempre o que uma prenda quer, se encaixa na categoria que ela está. Neste caso o meu papel também é explicar o porquê de cada modelo ser do jeito que é”, explica ele.
Quando o questionei sobre o motivo de desenhar vestidos de prenda, ele tradicionalista e peão, respondeu que desenha por ver a felicidade que as gurias sentem ao usar aquilo que sonharam. Assim ressalta ser imensamente gratificante, por meio de suas criações, estar fazendo parte da vida tradicionalista de cada uma delas.
O Jéferson é um ser humano diferenciado e também leva isso para suas criações, sendo muito cuidadoso no processo, garantindo exclusividade e cuidado com a categoria e estilo, levando em consideração o valor que cada prenda dispõe para investir, pois considera que todas conseguem ter o vestido dos sonhos, mesmo gastando pouco.
Ele ressalta que ninguém trabalha sozinho neste meio e, portanto, a Gisa, aqui de Guaíba, por exemplo, sempre consegue dar vida aos modelos por ele desenhados. Assim como o Joni, do Traço Gaúcho, que além de amigo do Jéferson, é uma forte inspiração para seus trabalhos.
Dentre os meus vestidos de prenda, três foram criações da JB Vestidos e meu carinho pelo criador se estende a suas criações, especialmente sobre o meu “azulzinho”, que foi um projeto de reforma, onde ele fez um vestido de 2009 renascer, tendo minha mãe, Ligia Costa, costurado.
O importante mesmo é que ele sempre leva em consideração a personalidade da prenda que vai usar, sendo que isso é um diferencial, pois é necessário muito carinho e amor para um bom trabalho nesse cenário, afinal ser prenda é uma dádiva e usar um vestido de prenda é um luxo.
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