Uma mulher de 38 anos morreu em decorrência de um câncer raro identificado na cápsula formada ao redor de próteses de silicone. O caso foi tratado no Hospital de Amor, em Barretos (SP), e descrito em artigo publicado na revista científica Annals of Surgical Oncology. Este é o primeiro registro brasileiro de carcinoma espinocelular associado a implantes mamários, conhecido como BIA-SCC.

De acordo com o mastologista Idam de Oliveira Junior, um dos responsáveis pelo estudo, apenas 17 episódios semelhantes foram documentados no mundo nos últimos 32 anos. O médico destaca que o implante continua sendo considerado seguro, mas reforça a necessidade de acompanhamento médico mesmo muitos anos após a cirurgia.
A paciente recebeu os implantes aos 20 anos e, quase duas décadas depois, apresentou inchaço e acúmulo de líquido em uma das mamas. Após exames, foi indicada a retirada da prótese, mas a biópsia confirmou a presença de células malignas na cápsula que envolve o silicone. O tumor já havia avançado para músculos e ossos do tórax, além de se espalhar posteriormente para fígado e outros órgãos. A morte ocorreu oito meses após o diagnóstico.
A cápsula é um tecido fibroso que o organismo forma naturalmente ao redor do implante, funcionando como uma barreira. Em casos raros, alterações celulares nesse tecido podem originar o carcinoma. A literatura médica aponta que esse tipo de câncer não está relacionado a marca, modelo ou técnica de inserção da prótese.
O estudo também apresentou uma proposta de novo protocolo cirúrgico para o tratamento do BIA-SCC. A recomendação é de que a primeira cirurgia seja realizada de forma ampla, com retirada em bloco da prótese e da cápsula, garantindo margens livres de tumor. Segundo os pesquisadores, procedimentos incompletos aumentam as chances de recorrência da doença.

Além disso, os especialistas sugerem ajustes no estadiamento do tumor, considerando fatores como ruptura da cápsula, extravasamento de líquido durante a cirurgia e extensão da ressecção. O objetivo é oferecer parâmetros mais precisos para orientar o tratamento.
As diretrizes internacionais de acompanhamento indicam que mulheres com implantes realizem ultrassom a partir do quinto ano após a cirurgia e, depois, a cada dois anos. Em situações de suspeita de ruptura ou alterações na cápsula, pode ser indicada a ressonância magnética. Entre os sinais que requerem investigação estão aumento anormal da mama, vermelhidão persistente, presença de nódulos e líquido ao redor da prótese.
Comentários: